31.7.06

É preciso ter lata!

Andei eu feita parva, papelarias fora, a correr atrás do selo de um carro que ainda não está registado no site interneplex, afinal adiam outra vez o prazo! Não há respeito pelos cidadãos cumpridores, é o que é!

26.7.06

Insólitos desta vida

Eu já vivi muito e já vi muita coisa nesta vida apesar de estar ainda longe do meu auge que ainda sou muito nova apesar de não parecer. Mas esta que se me atravessou hoje no caminho, isso é que nunca tinha ouvido falar nem sei se é possível que aconteçam coisas destas que nem em filmes nunca vi nada de semelhante. A Micaela, que é uma das meninas que trabalham connosco e que é uma boa alma mas com umas ideias assim peregrinas que eu nem sei de onde ela as tira, veio fazer-me uma proposta. Não é bem uma proposta é mais um pedido. Eu ainda nem lhe disse nada porque fiquei tão atordoada com o que ela me veio dizer que ainda nem digeri bem a coisa que ela quer que eu faça.

Ela é casada mas o homem dela coitado é completamente e irreversivelmente impotente e ela portanto que queria ter filhos e largar esta vida, e que o homem lhe prometeu que a deixava largar esta vida assim que ela engravidasse, pois ela anda a tentar magicar conseguir sem ter que se sentar na casa partida uma vez que essa ao que dizem os médicos está mesmo partida de vez e sem retorno possível aos tempos de outrora. Sim que o homem da Micaela tinha idade para ser paizinho dela mas isso eu já nem vou comentar que cada um escolhe para si o que acha que para si servirá melhor.

E depois há o Sérgio. O Sérgio é um galã que trabalhou aqui connosco durante uns tempos mas a coisa não durou muito porque as meninas se engalfinhavam sempre todas quando chegava a hora de escolher quem era que desfaleceria nos braços dele no fim de cada espectáculo. E o Jacinto às tantas fartou-se de tanta gritaria por causa de um homem só e mandou o Sérgio embora com muita pena minha e do resto das meninas porque ele era um gentleman na vida e um astaire na dança e só sabe quem precisou algum dia de ser amparada mas de tal forma que não se percebia que o estavamos a ser. E ele era assim, forte mas subtil com um toque final na forma de umas covinhas que se formavam naquelas bochechinhas apetitosas de cada vez que sorria. Confesso que até eu tinha um fraquinho por ele apesar de eu oficialmente ser a mulher do Jacinto embora eu sempre lhe tenha dito que era frígida até às pontas dos cabelos e que nutria por ele um amor do género plantónico o que parece que o satisfaz e a mim também me dá jeito porque ele me protege sem exigir nada em troca a não ser esforço e dedicação aqui à casa e aos espectáculos.

Mas a desmiolada da Micaela perdeu-se de amores pelo Sérgio e por aqueles olhos em forma de amêndoas doces e por aquela boquinha que parece que escorre mel, e vai daí meteu na cabeça que tinha que ter um filho dele e tinha que ser mesmo só com o pormenor técnico que não queria ter contacto físico de nenhuma espécie com ele porque senão ainda podia perder a cabeça e esquecer de vez o plano de largar esta vida enquanto ainda é nova. E quer ela, atente-se bem a este detalhe nada insignificante, quer ela que eu me enfie na cama com o Sérgio e de alguma forma lhe faça chegar a semente dele convenientemente recolhida num preservativo e imediatamente enfiada num saco de gelo que ela depois dará seguimento ao assunto da trasladação do sumo do Sérgio para dentro lá dos ontários dela. Mas será que cabe na cabeça de alguém tal coisa?? E que eu seja mero isco e recipiente dos conteúdos mais íntimos do Sérgio? E não conseguirá ela descortinar tanta coisa tanta que pode correr mal neste plano retorcido a começar pelo facto de eu própria me expor a ser apanhada e desgraçada pelo Jacinto que com toda a certeza não achará piada nenhuma ao facto de eu estar ali por baixo do Sérgio apenas no intuito de recolher seu derivado fertilizador para o ir levar à Micaela?

A única coisa que me faz vacilar é que realmente eu já estive nos braços desse homem rapaz e digo-vos que quem por lá passou não dá volta atrás. Nunca mais me conseguirei recordar dele sem sentir esse mesmo arrepio na espinha que nessa altura me vinha quando sentia a sua pélvis a roçar na minha… mas há que ter juízo que eu sou como uma mãe para estas meninas apesar de o ser só em maturidade e não em idade, entenda-se! Mas que o Sérgio me desinquieta e me tira do sério em muitas noites de insónias lá isso tira… e nem posso esticar-me muito porque o Jacinto está mesmo deitado ali ao lado e se me ouve gemer lá se vai a minha frigideira fingida pela janela fora e lá me verei forçada a levar com ele no lombo e ele não é nenhum Sérgio, ó pois não!

25.7.06

amigas

Sou uma irmã mais nova, tua mais velha. Preencho um espaço deixado vago por teus desafectos vários. Sou uma razão mais para gostares de pessoas: aumento-te. Contas-me – tudo? Gosto que tenhas outros a quem contar o que não me contas. Ou o que me dizes, mas de uma outra maneira. De ser mais um espelho em que te ensaias, te contradizes. Tu assim, recíproca; para mim.

24.7.06

É oficial

Familia, tios, tias, primas, primos, amigos, amigas, gato cocas,

É oficial:
Estou praticamente loira!

Anedotas de louras (3)

O que diz uma loira quando lhe perguntas se o pisca-pisca funciona?
Funciona, não funciona ... funciona, não funciona

Anedotas de louras (2)

O que se chama a uma loira com o cabelo pintado de preto ?
Inteligência Artificial

Anedotas de louras (1)

-Sabem porque é que as loiras tomam duche sem água?

-Porque o shampoo é para cabelos secos...

O caso do sapato de salto agulha

Olha agora que estou no meu intervalo pus-me aqui a pensar nos vários usos que se podem dar aos saltos agulha de certos tipos de sapatos e realmente e desculpe lá que lhe diga caro pirata vermelho mas sapato de salto agulha não é sapato de puta. Não que eu seja uma, acho que já deixei aqui bem claro que não sou uma profissional do sexo mas sim uma artista, mas conheço muitas que infelizmente tiveram que enveredar por essa via por falta de talento e por necessidades financeiras muito graves e preocupantes e de certeza que o meu caro amigo nunca se deu ao trabalho de conversar com nenhuma para perceber a problemática dessa profissão extraordinariamente difícil. Se tivesse por acaso conversado com alguma e se tivessem debruçado sobre o assunto do calçado mais conveniente pois ela com certeza lhe diria que a maioria das putas gostam de usar calçado confortável, sobretudo as do género puta de esquina ou puta de estrada. Quando muito aventuram-se aos sapatos de salto maçaneta ou montanha. Pelo menos no nosso país porque ver eu até já vi putas com sapatos de salto agulha mas foi em montras com luzes vermelhas por trás. Essas como estão sentadinhas ali toda a noite (e algumas todo o dia também) à espera dos clientes e como não precisam de ir andando por aí à procura dos melhores poisos de clientes à rasquinha, essas pois podem usar o calçado que mais lhes convier claro está.

Mas como no nosso país não há montras vermelhas com putas lá dentro, eu lhe garanto que aqui dificilmente encontrará alguma usando sapatos de salto agulha. Este género de calçado é muito estimado no meio artístico mas digo-lhe já que dançar com este tipo de sapato não é para qualquer uma. Requer um equilíbrio desumano e muitas e muitas horas de treino até que nos sintamos totalmente à vontade assentes sobre duas pequenas terminações que não tem mais de 1 cm cada uma. Se não me acredita experimente e logo verá. Enfim, talvez seja difícil arranjar um par que lhe sirva mas então peço-lhe que reflicta um pouco antes de maldizer tal calçado e rotulá-lo como sapato de puta que é coisa que ele sinceramente não é.

E dos usos que já dei aos saltos agulha dos meus preciosos sapatos, para além dos que deve ter imaginado e esses eu também posso ter imaginado mas garanto-lhe que com eles nunca furei nenhum olho a ninguém por muita vontade que tivesse tido de o fazer em certas situações, pois aqui lhe deixo um pequeno caso para ver a multiplicidade de usos que se podem dar aos saltos dos sapatos em querendo. E talvez lhe faça pensar duas vezes na dignidade deste tipo de calçado que foi por si tão menosprezado.

Aqui há uns meses atrás fizemos aqui no Amarguinha a festa de despedida de solteiro do filho do presidente da junta. Aquilo começou logo mal de início porque a noiva também queria fazer a festa de despedida dela ali e por muito que nós lhe explicássemos que os homens tinham prevalência e não é por nada que nós não descriminamos ninguém mas é só porque os homens no geral são mais generosos do que as mulheres e as gorjetas com eles são sempre cinco ou seis vezes mais do que com elas, já para não dizer que há mulheres que nem gorjeta sequer deixam. E depois não sei porquê mas os preparativos engataram-se todos um bocado. As meninas não atinavam com as músicas e os rapazes estavam mais desordeiros do que é costume. Refilavam com a mesa e com a vista que estavam muito longe e não viam bem o espectáculo. Queriam meninas a servi-los e nesse dia o Jacinto tinha pedido ajuda a dois sobrinhos para conseguir dar conta do recado. Depois o gelo foi-se a meio da festa porque o gerador do frigorífico pifou e o rapaz já ameaçava ligar ao pai para nos mandar cancelar a licença e eu então resolvi que o melhor era trazer os rapazes para a festa connosco antes que a coisa desse pró torto. Fomos buscar a máquina de karaoke que o Jacinto tinha comprado que este homem está sempre a gastar dinheiro em coisas que não deve mas é mais forte do que ele, apesar de tal coisa ainda não ter sido usada porque ali no Clube não há cá truques desse género que a voz que se houve nos espectáculos é mesmo a das artistas que lá estão em palco.

Ao ligar a máquina pois percebemos que faltava ali uma peça que aqui vai ter que me perdoar a minha ignorância tenalógica mas era qualquer coisa que regulava os trifásicos da máquina e sem aquilo pois que a dita coisa não funcionava nem por nada. Era preciso qualquer coisa estreita e comprida para pôr lá no lugar da peça que faltava e veja bem que sim, foi um salto agulha de um sapato azul marinho com reflexos carmim que salvou a noite nesse dia. Eu é que não percebo muito disto senão até lhe mostrava aqui uma fotografia para ver como a bendita máquina para além de ficar a funcionar ficou também muito mais bonita e charmosa. E assim cantámos e dançamos com eles toda a noite à conta do meu providencial sapato portanto como vê há sempre mais para além do que se avista num sapato de salto agulha.

Sem mais outro assunto me despeço e lhe lanço aqui um apelo à imaginação caro amigo. Nós podemos criticar as coisas por serem apenas meras e vulgares coisas. Podemos ignorá-las e desprezá-las. Mas tudo tem o seu valor se você souber como valorizá-las. Se estou a parecer-lhe condescendente pois peço-lhe perdão. A minha intenção é apenas tentar abrir-lhe os horizontes e não fechá-los. Só lá, na mente, conseguimos depois voar para longe do cinzentismo que é a vida do cidadão comum. Mas tenho a certeza que sabe disso tão bem ou melhor do que eu.

Vamos lá dar-lhe importância, prontos!




Eis o nosso cromo comentador de serviço, numa das suas intermináveis arengas sobre a falta de qualidade literária (que é nossa obrigação manter já que é para isso que nos pagam) aqui da SOCA, o imperdoável facto de termos um blog para nos divertirmos e mais uns quantos milhares de caracteres que ele depois logo debitará nos comentários.

22.7.06

Realidade-outra

No tempo em que as ruínas se reconstruíam, quando do lado de lá das ogivas das janelas se via o mesmo exacto fundo azul, "esse azul da côr do céu sobre Lisboa quando estamos felizes", quando existia sempre um lado coberto de andaimes e do outro a mesma decadência solene e antiga, nada era ainda permanente; como se aqueles andaimes fossem o sinal dos entretantos, dos intervalos na vida, quando saltamos para outro lado que não existe senão no desejo de realidade-outra.

É um mundo que lá mais atrás se apartou de nós, quando viramos uma esquina e esse destino ainda vinha lá mais abaixo na rua, um bocadinho de nada atrasado, a olhar para o relógio e a aborrecer-se por ter que parar outra vez, diabo dos atacadores, a pousar um pé num degrau para os amarrar e, lá mais acima, o destino desse destino a virar já a esquina, a desaparecer outra rua acima.

E andaimamos a

(isto está desconexo, mas não se consegue seguir uma linha quando se é, várias vezes, interrrompido; fica assim, intermitente)

vida. Um gajo para pintar os andares de cima sem andaimes não vai lá e dão jeito para colocar vidros-duplos e estores eléctricos, como se o sol a passar pelas janelas não fosse suficiente para tapar o frio e o vento dos dias de chuva. Na verdade não é, mas na realidade-outra, a chuva lembra essa que talvez tivesse caído num certo dia, quem sabe se aquela esquina que se virou não era apenas para ir ali mais adiante comprar um guarda-chuva, porque se tinha saído de casa sem contar que o tempo mudasse, coisa assim pouca, um guarda-chuva, um atacador,

um palácio eternamente em ruínas, eternamente andaimado, e depois um dia (há sempre esse dia em que a carrinha dos tubos atravessa o portão) acabam as obras e tudo fica (até a uma nova erosão das pedras) concluído.

O turno da noite

Ó Cecilinha, não achas que estes eram mais adequados?
Nem imaginas os estragos que estes saltos podem causar!
Se bem que entre uma agulha bem espetada e uma soca bem mandada...
Mas tá bem, foi só uma sugestão aqui das meninas do Amarguinha!

A rosa
Marisa Monte

Uma letra faz toda a diferença

Pois hoje é que me chamaram a atenção ali no hiper da Alta onde eu até já fui caixa e com muito gosto antes do Jacinto ter topado o meu enorme potencial artístico que salta à vista desarmada e me ter feito cabeça de cartaz no Amarguinha Clube com muita honra e mérito. Não é que a outra Arlinda, a Mastro parece-me que é, me vai e me edita um livro logo nesta altura que eu estava a tentar dar um novo elan à minha carreira? Enfim, aparte o nome pois que fique bem claro que eu e ela não temos nada em comum que essa senhora tem idade para ser minha mãe e além disso é loura e estrábica e eu sou morena e boazuda.

Mas pronto, presto aqui o esclarecimento que me custa sempre ter que o admitir mas que não deixa de ser verdade apesar de não ter sido culpa minha, pois que de facto Arlinda é apenas o meu nome artístico que eu hoje ainda estou para saber o que foi que deu à minha querida mãezinha naquele preciso momento de hesitação entre escolher um "l" ou um "m" e me vai e me bota precisamente a letra no nome que nem eu nem ninguém com dois dedos de testa visionística escolheria de jeito e maneira nenhuma para uma filha ainda para mais uma com tanto potencial como eu.

É que qualquer ser humano racional perceberia a quantidade abismal de escalões sociais que se perdem ao fazer essa escolha entre o "l" e o "m" para a terceira letra do nome, ou não é? Sim que eu cá não conheço nenhuma socialaite que se chame Arminda! Ou pera lá que agora não me lembro qual é o nome real da Lili Canetas… sei que começa com um "A" mas o resto varreu-se-me totalmente. Bom mas isso agora também não interessa porque essa senhora já vai três ou quatro gerações à frente da nossa.

Voltando aqui ao meu caso, pois Arminda não é coisa que se apresente em palco nenhum do mundo até porque Arlinda tem uma sonoridade completamente diferente. Faz lembrar "ar de linda" e é no "linda" que está presente a força do que não há que enganar que uma pessoa com este nome foi mesmo fadada para as lides artísticas pois que até eu tenho que admitir que a Arlinda Mastro tem o seu quê pois que divide o seu tempo entre os palcos de Lisboa, Paris e a Bela Horizontal.

Ainda por cima "minda" é uma coisa assim meio coxa… tipo dedo mindinho, escondido e enfezadito e enfezada é coisa que eu nunca fui nem sou portanto não percebo porque diabos a minha mãezinha não acertou logo no meu nome à primeira e obrigou-me assim a viver toda a minha infância e juventude à espera do estrelato para finalmente puder trocar o maldito "m" pelo belo, fantástico e maravilhoso "l" e desde que o fiz a minha vida tem sido bafejada pela sorte e de tal forma que me pergunto o quão diferente teria sido ela, a minha vida, caso tivesse começado logo com a letra certa!

21.7.06

Haja respeito!

Agora que aproveitei um furinho e vim aqui descontrair um bocadito para justificar o dinheiro que gastámos a instalar esta ligação que ainda por cima é daquelas sem fios apesar de que a mim não me agrada lá muito saber que apanhamos com tantas ondas radiocognéticas mesmo sem as vermos, e que vejo eu?! Insultos e outras faltas de respeito a estas senhoras que se esforçam tanto para aqui providenciarem um espaço de serviço público como não há outro neste país, a não ser talvez aqui o Amarguinha Clube. E é que vos posso garantir que mesmo cá os cavalheiros nossos clientes tratam-nos a todas nas palminhas e não há quem passe da linha se bem que ali sempre temos o homenzarrão do Jacinto que serve para acalmar os ânimos mais exaltados. Até que era uma ideia pedir-lhe para ele vir até aqui impor o respeito mas o homem coitado é de tal forma iletrado que até a assinar vai de cruz apesar de ter um coração do mais puro e bondoso que há.

Não percebo porque haverá sempre quem goste de vir estragar o ambiente e por acaso lá no Clube acontecia-nos mais antes quando tínhamos os shows mistos que essa ideia de que as mulheres é que dão cabo de tudo é completamente falsa! É certo que nós também temos as nossas quezílias mas o máximo que dali sai são uns quantos gritos e umas bolachadas e pisadelas enquanto que quando eram eles que se engalfinhavam a porrada virava sempre forte e feia de tal forma que davam sempre cabo da mobília e no fim lá ia o Jacinto contar as cadeiras partidas e as mesas esmurradas.

Esta sociedade está perdida é o que eu acho! Mas claro eu não tenho voto na matéria nem aqui nem em parte nenhuma e com grande pena minha porque continuamente me desprezam apesar de eu sempre exclamar alto e a bom som que não sou uma profissional do sexo. Eu sou uma artista! Sou uma dançarina exótica que faço dele, do sexo, a minha fonte de inspiração mas depois este material de primeiríssima qualidade que é todo naturalmente meu é só para cliente ver e não tocar que é para isso que lá está o Jacinto a pôr ordem na casa.

Meus amigos e amigas, vão por mim que eu já vi muita coisa nesta vida vos garanto, e digo-vos que não vale a pena estragar o que podem bem ser inícios de belas e bonitas relações intersexuais (e quem sabe também até intrasexuais) mesmo que sejam virtuais mas que seja tudo do bom e do melhor enquanto dure. E se há quem se abespinhe, pois que o ser humano é mesmo assim sem que nada nós possamos fazer senão talvez convidá-los a assistir a um dos nossos shows a três lá no Amarguinha que normalmente caem sempre bem junto da clientela mais intratável, pois como ia dizendo que levem esses espinhos para outros lados e deixem as lindas rosas que são todas estas senhoras florescerem à vontade por aqui, ou não é?

20.7.06

Homens e mulheres

Apetrecho indispensável a qualquer boa dona de casa



'ma vassoura pra mim
'ma vassoura pra ti
e a vida sorriiiiiiiiiiiiiii!

Coisas de gaja

Gosto de listas e de rascunhos e de agendas e de caderninhos. Adoro de paixão. Também gosto de responder a questionários, de preferência daqueles intermináveis, sobretudo se forem telefónicos. No fundo gosto que me vasculhem a intimidade e me perguntem se gosto mais do Porto ou da Académica ou se bebo água engarrafada ou da torneira.
Colecciono amostras de cremes e de perfumes que nunca usarei, mas que sou incapaz de deitar fora.
Tenho mais pares de sapatos do que tuperwares e arrepio-me de prazer quando as meninas das lojas me sobem as baínhas das calças.
Gasto fortunas em cremes anti-celulite que não fazem efeito, que eu bem sei; só há um que funciona e para esse o meu orçamento não chega. Também me besunto com refirmantes para o busto (as mamas, a saber), mesmo sabendo que nunca arrebitarão.
Mas

Não consigo usar cuecas fio-dental, que me dão cabo das hemorróidas.

Eu gosto das coisas que gosto.

Gosto de azul, de cerveja e de gatos. Há pessoas que gostam de vermelho, de vodka e de cães. Eu não gosto de vermelho nem de vodka nem de cães. Na verdade transcende-me um bocado que haja pessoas que consigam viver em paredes pintadas de vermelho (tão berrante), que bebam vodka (queima na garganta) e que gostem de cães (palhaços, sempre aos saltos e a ladrar). Mas, imagino eu, que para essas pessoas o vermelho seja a melhor cor do mundo, a vodka néctar dos deuses, e os cães amigos fiéis. E por isso, quando vou a casa dessas pessoas, elogio o sofá branco, bebo água da torneira e sorrio para o cão. Quando vou a casa dessas pessoas, não desato a dissertar sobre as qualidades relaxantes do azul, osseificantes da cerveja e abaixadoras de tensão arterial dos gatos. Muito menos me ponho a dizer que se vivesse na casa dessas pessoas era capaz de mutilar alguém com um fio de sediela só para ver se fazia nódoas nas paredes ou se disfarçava, e que depois punha o coto desse alguém na vodka para desinfectar porque é só para isso que a vodka serve, e que dava o apêndice mutilado ao cão para ele se calar pelo menos uma horinha.

Ora então com licença sim?

Ó meus amigos, eu até e antes de mais nada tenho que fazer aqui um agradecimento público aqui à chefa que me concedeu aqui este brevíssimo tempo de antena porque preciso mesmo de fazer uma reclamação e não sei bem a que entidades competentes me hei-de dirigir e pode ser que em calhando aqui alguém até me possa esclarecer.

Fui este fim de semana à Feira Erótica de Lisboa até porque uma moça boazuda como eu tem que se manter alinhada com as novas tendências que nunca se sabe o que estará mais na berra nos dias que correm e a gente tem que se manter actualizadas e vai disto e dou de caras com uma tal de Sónia Baby que diz que mete metros e metros de correntes lá na dita coisa cuja e eu essa senhora já a vi antes e posso-vos garantir que ela é uma fraude! Pois é verdade e o que ela diz que faz não é verdade! Aquilo tem truque e eu até sei porque já experimentei mas não consegui ainda apanhar-lhe o jeito porque eu trabalho ali no Amarguinha Clube e o Jacinto queria incorporar uma coisa do género no nosso espectáculo mas estes meus dedos não me obedecem!

Então aqui vai em primeira mão! O que a Sónia Baby faz é arranjar assim uns slips com um material que ninguém fora deste meio conhece mas que produz assim um reflexo à luz que parece que as coisas que para lá vão é como se desaparecessem para dentro de um buraco negro que não é mais que os slips feitos com o tal de material xptozístico que assim se vão enchendo com correntes ou com o que quer que seja que a gente para lá queira ir enfiando e depois assim também eu conseguia meter metros e metros e litros e litros! Só que a gente ainda não atinou com o grau psiolítico do material xptozístico e ainda não conseguimos nada mais do que deixar a garagem do Jacinto com as paredes todas coloridas e com um cheiro algo suspeito mas a mistura que a Sónia usa a gente ainda não a conseguiu obter.

E eu até que reclamei bem alto na altura e ela até olhou bem dentro dos meus olhos e eu lhe vi as chispas de raiva que isto nestas profissões as mulheres é tudo de cortar à faca porque mais invejosas não há. Mas alto lá que eu não sou como ela! Com as devidas distâncias porque os shows eróticos do Amarguinha têm qualidade e estilo! E a coisa ilusionística que a gente queria lá fazer não era com pretensão de bater recorde nenhum (ainda por cima falso!) mas apenas de melhorar o nosso espectáculo.

Está aqui então feita a minha reclamação, com o devido respeito e agradecimentos à exma senhora que tão gentilmente me abriu aqui esta janelinha e agora me vou que já está ali a Micaela a gritar-me que é hora do meu acto e uma artista não pode descurar o espectáculo por muito enervada que tenha ficado com o encontro fortuito com essa tal de Sónia Baby que se atreva a aparecer por aqui que eu e ela temos umas quantas contas a ajustar!

Imagem para o post de baixo


É mais giro fazer um post a dizer imagem para o post de baixo do que colocar a imagem no post de baixo.
Olha, e agora não é que me fui lembrar da rotunda do aeroporto, no tempo em que ainda não havia semáforos? E, pior ainda, nem sei se alguma vez isso foi assim? Sem semáforos, digo. Quer dizer, claro que terá havido um tempo em que a rotunda existia e não existiam semáforos, mas isso já não serve, porque, imagine-se que isso teria sido numa altura em que ainda não haviam muitos carros. Lá está, não servia a imagem.

Melhor mesmo esta. Ou melhor dizendo, aquela. Que afinal não está por baixo mas, por destino ou engano na escolha do botão, ficou ali do lado esquerdo. Por baixo deste post, embora sirva de imagem ao post abaixo.
Caneco! Agora ficou por cima! Isto é mesmo dinâmico! Rewindemos, pois: ficou à esquerda de parte deste texto, em cima de outra parte deste texto e em cima do texto ao qual serviria (e servirá) de imagem.
Acho que está tudo clarificado agora.

É tão dinâmico que, quando re-editei o post, até já tinha um comentário e tudo! Olé! Ai o que eu gosto disto!

Eu gosto é do verão
de passear com a soca na mão

obrigada à fúria do açúcar, pela música acima (ou não é deles?) adaptada a este nosso blog! Ó Cilinha! Já te tinha dito que adoro a soca nova do template? Aquilo sim é uma verdadeira soca! E pontiaguda hein? Faz lembrar aquele outro filme do salto espetado na testa

Nunca mais saio deste post, é o que é

o salto! ai filha, não te trates! era a ponta da soca, tem nada a ver com o salto agulha do filme

agora faço publish mesmo, prometo!

era faço mesmo um publish final, digo!

ora então xacáver

O que é que eu vou escrever.
Hum...
Está fresco hoje, não? Mais fresco que noutras noites. Não sei se tão fresco como algumas noites, mas mais fresco que ontem, ou não? Se calhar não, mas também pode ser. Isto do tempo, é nebuloso, ou claro, chuvoso, há dias em que o sol tem estado quase impossível. Então quando se deixa o carro ao sol, um inferno lá dentro. Não sei se deram conta, mas tem estado tanto calor nestes últimos dias, claro que se deram conta, era toda a gente a queixar-se. O tempo é sempre uma fonte de conversa fiada, porreira, não é? Bestial isto. Vou escrever mais uns quantos parágrafos sobre esta problemática, parece-me interessante e creio que ainda não foi tudo dito sobre o tempo. Não! Nem pensar! Há muita coisa, imensa mesmo que se pode dizer sobre o tempo, a chuva, o sol, as nuvens, têm aqueles nomes todos, não me lembro nada, bastava uma pesquisa no google, mas não há paciência para ir agora pesquisar nomes de nuvens. Xacá pesquisar na memória, mas não, nada, cúmulos? Haviam umas nuvens cúmulos? É bem possível e quase que apostaria que uma pessoa fazia logo a coisa, ora então se são cúmulos, são as nuvens que ficam lá mesmo no cimo e pimba, haveriam de ser aquelas que quase tocam no chão, nevoeiro diga-se. O nevoeiro também é um óptimo tema de conversa, há montanhas de considerações a fazer quanto ao nevoeiro. Não sei porque carga de água agora parei de escrever, quando comecei a pensar nas considerações, portanto sigamos para a carga de água, que é ainda mais um assunto do mais interessante que temos. E quem diz carga de água, pois diz tempestade, trovoada e agora lembrei-me que ainda ontem falei nisto, da minha mania de rever um filme sobre furacões só para ver a parte da vaca a voar. A bem dizer, não revejo o filme todo e, para ser honesta, há anos que não o não-revejo para ver a parte da vaca a voar, mas vamos supor que sim para eu prosseguir com a linha de raciocínio. Gosto imenso daquela vaca a voar, gosto imenso de vacas a voar e agora lembrei-me também dos porcos no espaço, o que, à primeira vista, parece um afastamento ao tema, mas não é. Não pelos porcos, que não os consigo associar ao tempo (mas com tempo lá iria) mas pelo espaço. O espaço também tem tempo, embora o tempo no espaço seja diferente, mas não é esse tempo, é o outro e no espaço parece que faz um frio de morte. Embora não se morra de frio no espaço, como é óbvio, já que também falta o ar, o que faz mais falta enquanto uma pessoa está a tiritar e a pensar que deveria ter trazido mais umas mantas no foguetão e se calhar ter aberto a janela também não terá ajudado. Mas voltando ali atrás, à questão do ar, tem andado mesmo poluído. E quem diz o ar, diz os cursos de água, digo eu, se calhar com a seca deste ano, nem há cursos de água, só cursos de descargas poluentes, mas divago. estava a falar do quê? Ah! Do tempo.
Do tempo que demora a escrever um postal destes, quase nada: dois cigarros e uma gargalhada.

18.7.06

Dizer asneiras é como cagar mas ao contrário.

Um gajo estimula uma qualquer ponta do corpo:
-uma calcadela num dedo mindinho por um tacão aguçado,
-umas amassadelas no juízo por um chato qualquer
-umas empurradelas na alma por problemas na vida
A irritação ou a dor passam pelos nervos, pelos músculos, pelas veias, acumulam-se no estômago. Enrola-se no estômago, para um lado e para o outro, um croquete de nervoso com camadas de ácido. Quando já está uma bola grande rechonchuda passa pelas tubagens apropriadas, é empurrada com um bocado de ar, modelada com a língua, a boca abre-se e lá vai um “puta que pariu esta merda toda”.

Da Imparável Marcha das Ratazanas

Como em tempos se referiu (apenas como a salada que acompanha o prato e fica assim asseverada a posição do autor sobre saladas), tinham sido as ratazanas os únicos seres vivos capazes de escutar os primeiros gemidos da cidade. À boa maneira da espécie - e sem qualquer culpa, coisa genética - tinham tratado de empilhar haveres e iniciar a Longa Marcha em direcção, bem, geograficamente falando, em qualquer direcção desde que a mesma fosse apanágio da palavra saída. Repare-se, uma família de ratazanas que vivesse no centro da cidade, para sair, tanto faria o norte ou o sul ou qualquer outro ponto cardeal e todas os intercalares, que as cidades costumam ser circulares. Mas em nome da protecção e segurança e outros valores caros a povos inteiros em marcha a passo de fuga acelerada, a Imparável Marcha acabou por se dirigir toda para uma direcção só, apanhando todos os participantes pelo caminho. Sem lógica, mas mais animado.

O ambiente que se vivia era de euforia, que o medo aprazado não é um pânico mas antes uma cautela. Ou, pelo menos, era o que o líder do grupo, uma ratazana cheia de marcas das guerras contra outros clãs e também gatos, fazia constar pelas fileiras. Tudo corria, pois, dentro do estipulado e na relativa calma que uma marcha forçada, com alguns espezinhamentos e uns quantos ratos mais coxos deixados para trás, proporciona aos mais fortes e audazes (nas ratazanas a Lei de Darwin ainda impera). E continuaria a correr, não tivesse a Marcha sido engrossada pelo Bando dos Ratífulos.

O Bando dos Ratífulos (nome inventado por eles mesmos, para se demarcarem das grandes famílias de ratazanas) era composto por algumas dezenas de ratazanas e ratos ainda na segunda idade mas já com ideias de sair de casa e ter um canto seu, com frigorífico cheio de cervejas, cinzeiros a transbordar de beatas e muito sarro no fundo do duche; e que, em horas mortas, se entretinha a colar e arrancar cartazes, assaltar lojas de conveniência e brincar com as leis da química. Seguiam algumas cartilhas de independência ou morte, braços armados de ideologias que ainda haveriam de pensar quais eram e a nós! a nós! ou coisa parecida.

Desde que se tinham juntado à Marcha, os desacatos tinham aumentado e a Marcha estava um bocado farta deles, mas serviam para assustar os gatos e cumpriam uma função utilitária na protecção dos mais fortes e audazes (e mais espertos).

Tudo corria, pois, mais ou menos agora, dentro do estipulado, até que o chefe dos Ratífulos, Ratífulo 1 (não eram muito imaginativos e o autor também não está com melhores ideias), resolveu abordar o Grande Chefe da Imparável Marcha (GCIM) e questionar o assunto das pontes. Alto e bom som.

Mas quais pontes? retorquiu GCIM, agastado com aquele atrevimento; mas depois lembrou-se que Ratífulo 1 era filho (embora em relações menos que cordiais) do Grande Chefe de uma das principais famílias e prosseguiu com melhores modos, que pontes, filho?

As pontes, então! respondeu o outro, não se distraindo com aquela bandeira espetada no nariz a acenar paternalismo causador de polémica em alturas menos urgentes. As pontes todas que temos deixado para trás!

Sim? atirou-lhe GCIM, diz depressa que estamos aqui parados; não sei se reparaste, acabamos de atravessar uma e a Marcha agora está toda virada ali para trás a ver o que se passa, que uma ponte numa cidade cujas pedras gemem não é proximidade desejável. Estás a lançar o pânico o que é ainda menos desejável e aposto que não é mais do que outra manobra do teu grupelho para se apropriar de bens alheios.

GCIM, implorou o outro e tão importante era aquela questão que deixou passar a parte da apropriação de bens alheios, credo que tinha aprendido de nascença e que agora lhe estava a ser apresentado como reprobatório. GCIM, as pontes que temos deixado para trás, temos de as queimar!

Queimar? ecoou a Marcha ao som espantado produzido por GCIM.

Claro, disse Ratífulo 1. Toda a gente sabe disto: numa Marcha Épica em fuga para a frente, há sempre que queimar as pontes. É obrigatório. Senão não é Marcha Épica e ninguém vai nunca escrever sobre nós.

Ninguém vai escrever sobre nós? produziu um coro afinado de ratazanas histéricas, antes sequer de GCIM abrir a boca. Mas isso não pode ser! prosseguiram outras e logo ali se produziu tão acesa discussão sobre a queima das pontes que ardeu num instante e o consenso foi atingido passado um curto espaço de tempo.

Ok! decidiu GCIM, queimam-se as pontes. Vamos começar por esta aqui! Alguém - e olhou para Ratífulo 1 - tem ideia de como isso se faz?

Bem...não, respondeu Ratífulo 1. Mas isso também não interessa. Temos ideologia e conceito. Temos a ponte. Depois do almoço a gente logo vê disso.

17.7.06

On arrive vierge à tous les événements de la vie.*

A vida e a análise do passado não fazem mais do que ajudar-nos a construir barreiras que nos dão uma ilusão de segurança. Na realidade, passamos a vida a repetir os mesmos erros, a seguir os mesmos padrões, a repetir vezes infindáveis a mesma escolha. A vida é um disco em endless repeat. Ouvimos sempre a mesma canção, que nos parece sempre nova.
A ilusão da barreira, da máscara que construímos, faz-nos pensar que podemos evitar a dor, que estamos melhor preparados para encontrar a felicidade. Em certos momentos de lucidez, no entanto, apercebemo-nos que cada desilusão é sempre a primeira, cada paixão é a primeira, todos os desafios são na realidade o mesmo. Porque, no fim de contas, não lutamos contra o mundo, lutamos contra nós próprios.

* Marguerite Yourcenar, Feux

16.7.06

até ao lavar dos cestos

Os cachos caíam, pesados e suculentos. A golpes de tesoura, lâminas curvas como pequenas foices antagónicas incidiam implacáveis sobre o pedúnculo. Tinha que ser no ponto exacto: nem demasiado rijo, nem excessivamente tenro. Sobre o ritmo incerto do tchic repetido pelas molas, do restolhar das folhas e do baque dos cachos ao cair, erguiam-se as vozes das mulheres, em cantilenas.
No topo da fila de videiras colocava-se um grande cesto. A verga espessa que o fazia forte e durável, entretecida numa ordem rigorosa, conservava fraca memória dos salgueiros que contornavam a vala, lançando para o ar as hastes despenteadas entre o açafrão e o laranja.
A colheita era deitada em baldes de plástico, quase sempre preto, transportados depois a custo até aos cestos. Estes, quando cheios, eram levados à cabeça pelas mulheres, em cima de rodilhas de pano entrançado.
Havia uvas verdes, roxas e rosadas. Deitavam sumo para atrair as moscas. Muitas, esborrachadas, fermentavam ao sol. As mãos pegajosas afastavam o cabelo do rosto e esfregavam as picadas dos insectos e as dores. No fim do dia todos tinham o mesmo cheiro: acre, avinhado, enjoativo, misturado com suor quente.
Quando a vindima acabava, todos descalçavam as botas e mergulhavam as pernas nuas nas dornas. O perfume das uvas pisadas era já um pouco ébrio e espalhava-se sobre a vinha, então despida de frutos. Sobre a cepa, ficavam apenas as folhas femininas da vergonha e do pudor, que em tempos ancestrais foram, para muitos, o símbolo da vida.

Hanky Panky

Esclarecimentos:

Linha editorial A 100nada e eu decidimos sempre juntas, até agora, a quem dirigimos os convites para escrever na Soca e continuaremos a fazê-lo. Eu preferi não dar a cara, mas seria injusto permitir que tudo continuasse a desabar em cima dela, quando há avalanches.
Não há restrições ao que cada sócia escreve. Nunca uma sócia foi pressionada para escrever nem para não escrever o que quer que fosse.
Já li aqui posts dos quais eu não gosto (incluindo muitos dos meus, que quando se tem que alimentar o bicho e não há ração, por vezes vai arroz trinca sem caldo de carne). Nunca fiz qualquer comentário a esse respeito e em todas as ocasiões fiquei muito satisfeita por ver que outros leitores, ao contrário do que sucedia comigo, gostavam desses posts e os comentavam, participando no blog.
Aproveito para dizer que as duas sócias que perdemos saíram pelo seu pé e por sua vontade, não tendo havido da nossa parte qualquer influência na decisão que tomaram.

Comentários Temos caixas de comentários abertas para que comentem, como é óbvio. Como tudo, isto é um pau de dois bicos (oops, wrong choice of words?): levamos com mimos, mas somos também mimoseadas com insultos, críticas duras, por vezes difíceis de digerir. É a vida, quem anda à chuva molha-se e não me lembro agora de mais chavões adequados á situação. Só não hei-de perceber – nem quero - por que razão alguns comentadores se crêem mais habilitados a comentar nas nossas caixas do que nós próprias, mas a mente de cada um, e respectiva distorção, já deve dar a esses palermas problemas suficientes.
Quando tudo corre bem e não aparecem grunhos(as), os assuntos são debatidos e os conteúdos ampliados através dos comentários; ou divertimo-nos, apenas, o que já não é nada mau. Penso que isto compensa o eventual lado negativo.
Noto que há pessoas que usam as caixas de comentários para ajustes de contas, para descarregar pressões e frustrações, mas também apanhamos palhaços desses no trânsito e aí podem ser mais perigosos. Provocam-me uma certa comichão, mas resolvo o assunto com água fria, de preferência num balde bem despejado. Antes aqui do que na vida. Se bem que para alguns isto é a vida, mas isso é problema deles.

Direito de resposta Assim como qualquer blogger pode escrever o que queira citando um post nosso, qualquer blogger nossa pode, naturalmente, escrever um texto citando esse mesmo texto (sobretudo quando o primeiro visado era seu...), ser citada de novo e por aí fora. Fica uma coisa um bocado circular, mas hei!, as rotundas estão na moda e andar à volta pode ser divertido, faz talvez lembrar um carrossel, quando se é pequeno.

Fox Trotter Os posts são sobre sexo, como muitos outros que já aqui apareceram. A diferença é que aqui a referência é directa e o tema é exclusivo. Se chegasse a hora da foda, ai perdão, da poda, não cortaria estes textos.
Bem sei que temos providenciado muitas vezes verdadeiro serviço público. Oferta nossa, que não deveria levar os leitores a pensar que tem alguma legitimidade reclamar sobre o que aqui se escreve, como se ficássemos a dever-lhes alguma coisa quando não gostam do que encontram.

Finalizando: critiquem, comentem, citem, façam publicidade, se quiserem. Mas sejam educadinhos e restrinjam-se ao que foi escrito, deixando antipatias pessoais de lado, se fazem favor, ou quem lhes dá tau-tau sou eu.

15.7.06

Amor Ódio

Crucifica-me. Abre-me os braços, ata-me as mãos, dobra-me e desampara-me as pernas. Açoita-me e sangra-me a testa, espeta-me o corpo, enche-me a boca. Abandona-me.

Lamenta-te quando eu desaparecer.

14.7.06

o escrutínio do talento

Noutros blogues, em caixas de comentários e nos bastidores, a fox trotter incomoda, o que é muito divertido. Erotismo, pornografia, ou apenas mau português? Confesso que não me excita grandemente a distinção erotismo/pornografia - não teria bagagem para tanto, nem tempo para a estudar e escarrapachar aqui com os básicos. Apenas isto: a premissa de que o erotismo é bom, porque eventualmente revelador de alguma expressão( literária) artística, e de que a pornografia é má, porque meramente descritiva de uma função animal básica com intuitos estimulantes (logo, arredada de qualquer manifestação estética), não me convence. Pode haver elegância e talento na crueza eficaz da pornografia, como pode o erotismo revelar uma mediocridade insuportavelmente pirosa. As distinções artificiais entre realidades de fronteiras pouco definidas, valem o que valem e nunca chegam a lado algum.

Entretanto, cheguei a este post do oldman que é, no fundo, um desabafo de homem queixinhas com beicinho: se for uma mulher a falar da dominação sexual de um homem, por muito cru que seja, é divertido, é light, parabéns pela coragem aka, é erótico; se formos nós, homens, a fazê-lo em relação a uma mulher, é machista, é pornográfico, está mal, pá, caem-nos logo em cima.
Eu até entendo e simpatizo com este ponto de vista, no entanto acho que o meu post, a ser considerado erótico, não o será por eu ser mulher tout court, mas talvez porque, para além do sexo cru, seja uma divagação onírica que é quase uma história e porque pode haver quem nele tenha visto um certo sentido estético e uma ironia que pretendi fina ( pelo menos foi essa a intenção, mal ou bem conseguida, não sei). Já o texto do OldMan é olhado (até por ele mesmo) como pornográfico, e não porque tenha sido um homem a escrevê-lo, mas porque é uma caricatura deliberadamente boçal (e, como ele próprio admite, inferior ao original). Faz sentido: quem nos lê tende a catalogar-nos com maior ou menor benevolência, consoante tivermos sido mais ou menos bem sucedidos no que escrevemos. Faz sentido, mas adianta pouco.

Numa coisa, o OldMan acertou: o meu post é mais sobre dominação do que sobre sexo; é muito mais sobre o forçar de uma submissão perante a frustração que é o livre arbítrio do outro, do que sobre sexo. Este surge como instrumento para conseguir o domínio através de um prazer que subjuga o corpo e a mente. Sim, o texto fala de orifícios e do que fazer com eles, fala de carne, de dor e de desespero. Mas também do homem como objecto sexual; do homem que se ama, reduzido a objecto sexual; do homem que se quer mas não se pode ter, reduzido por fim a mero objecto, já nem sequer sexual, ou seja, reduzido a utensílio. E da frustração raivosa que nos escarafuncha as entranhas e nos impele a violentar o outro. Não tão simples como reduzir o texto a uma descrição mecanizada do acto sexual, com o mero intuito de excitação de terceiros, parece-me (independentemente da qualidade literária, da falta dela, e do número de punhetas que efectivamente foram, ou não, esgalhadas por quem o leu).


Para mim, os espartilhos mentais que ainda levam muita alminha a catalogar as manifestações culturais (em sentido lato) relacionadas com o tema sexo, como diferentes entre si, consoante tenham origem masculina ou feminina, basicamente porque as mulheres, (tradicionalmente, as vítimas), têm buracos, são penetradas e por isso devem proteger-se e resguardar-se, e os homens são os porcos chauvinistas insensíveis que chegam e zuca! zuca!, fazem-me cada vez menos sentido. Em algum momento, todos somos uma coisa e outra, agressores e agredidos, violadores e violados (em sentido figurado, calma!).

Nos meus posts há sexo desabrido, violento, escancarado? Também. Há sexo com as palavras todas, num grafismo para muitos intolerável, grosseiro, nauseante? Fluidos a mais? Amor e rodriguinhos a menos? Admito que sim. Para mim, é mais do que isso. Mas podia ser só isso e serem bons na mesma. Ou maus. Ou serem sobre outra coisa qualquer. A mim, francamente, o que me interessa é o escrutínio do talento (ou da falta dele, claro).

13.7.06

Destino falhado...













Estes dias de calor trazem-me duas certezas inabaláveis: primeira, eu nasci para viver num país onde é Verão o ano inteiro; segunda, eu nasci para fazer qualquer coisa que, além de profundamente criativa e que dê pilhas de dinheiro, não tenha horários e se possa fazer em qualquer lugar.
Nunca me sinto tão bem como quando estou ao sol. O inverno desperta-me um alter ego sorumbático qualquer, que só quer estar em casa, no quentinho, a ver filmes e a ler. O Inverno é como o badalar da meia-noite, que transforma a minha carruagem em abóbora e as minhas roupas em pijamas. Não gosto nada deste alter ego, que além de ser uma chata, fica muito menos gira (o bronzeado favorece-me).
Por outro lado, quando o sol brilha lá fora só me apetece estar estendida ao sol, mesmo ao pé da água (de preferência numa daquelas praias com palmeiras e mar azul turquesa), a maresia a misturar-se com o cheiro da loção tropical que um tipo qualquer podre de bom se entretém a espalhar minuciosamente pelo meu corpo. Tenho a certeza que nesse momento me sentiria particularmente criativa, o que seria, sem dúvida, óptimo para a minha carreira.
Na verdade, estou aqui no escritório, agarrada ao computador pelas próximas horas, não vivo num país onde seja Verão o ano inteiro, e de loção tropical e gajo podre de bom nem traço.
Ah, rater sa vie...

Meu amor,

suponho que não te apetece repetir a proeza. Se voltas a chegar a casa com esse perfumeco barato da tua secretária misturado com fluidos nojentos, temos festa.
É que já tenho a coisa:


Fase testosterona

No dia em que perdi a conta às necessaires e toalhas de praia que me enchiam o armário, achei que o meu fanatismo pelo compre isto e leve aquilo estava a chegar ao limite.
Durante anos recortei cupões de revistas e recebi na volta do correio cremes, amostras e até pacotes de fraldas para incontinentes. Toda a oferta era pretexto. As idas à perfumaria eram estudadas em função da cor da bolsa que o creme oferecia.
Depois o tempo mudou e os cemes passaram a ser os da linha branca do hiper.

Ontem dei por mim a escolher uns iogurtes simbióticos de melancia porque ofereciam um bola de praia. Eu não sei o que é simbiótico, sou alérgica a melancia e não jogo à bola na praia.

Hoje trouxe um catálogo que estava na caixa do correio e à hora de almoço vou a correr ao mestre maco buscar uma rebarbadora. Acho que talvez possa dar bom uso a um conjunto de alicates guapíssimos.

Erro de palmatória

Um dos mais vulgares erros que as pessoas menos informadas (sendo que aqui essa informação é adquirida com a prática, embora eu esteja aqui a tentar educar a classe mais prejudicada com a falta dessa mesma informação) cometem, é pensar que a falta de sexo causa vontade de o ter.

Evidentemente, essa afirmação é (mais ou menos *) verdadeira.
Mas.
Mas.
Existe um facto curioso que é muito simples: quanto mais se tem, mais se quer. O que me parece bastante saudável, quer para a mente, quer para o corpo.

Portanto, quando coninhas(**) como alguns e algumas que por aqui passam, se lembrarem de acusar o mulherio de andar mal fodido e por isso escrever mais sobre o assunto, façam o reset a essa ideia de sexualidade básica ainda nos primórdios da sabedoria sobre o que é o desejo.

* matéria para outro post
** tótós

12.7.06

Numa revista feminina leio que o fuck buddy está na moda. Uns parágrafos abaixo dizem-nos que se usa o sexo como uma arma contra o desespero e a solidão e a falta de auto-confiança e amor próprio.
Sorrio sozinha, encantada com a ironia de tudo isto. Se estivesses aqui ríamo-nos os dois, divertidos mas meio assustados com esta vulnerabilidade de nos vermos escritos numa página de revista. Se tivéssemos lido isto há uns anos atrás, quando nos descobrimos em lutas suadas de lençóis, o nosso riso teria provavelmente morrido cedo, e como por magia o assunto já teria mudado.
Agora pergunto-me quanto tempo teremos de esperar para vermos a continuação nas páginas de uma revista, quanto tempo demorarão a pôr em palavras aquilo que entretanto descobrimos. Mesmo que continuemos a manter o nosso script secreto, outros escreverão uma peça parecida.
Na nossa próxima madrugada conto-te. Só para me regalar a ver a ironia chegar-te aos olhos num sorriso.

só para ti

Há pouco vim-me a pensar em ti. E em ti, também. Primeiro tu – sim, tu – lambias-me toda. Tu usavas as mãos como tu usas (tu sabes) e abrias-me com os dedos. Depois tu – ou eras tu? – calavas-me com a boca. Tu ficavas de joelhos, como te vi, em cima da minha cama (deixa-me ver-te). Depois fodias-me por detrás, tu – quero dizer, tu – e tu encostavas as costas à minha frente inclinada para diante, para eu salgar a língua com o teu suor e te morder.
Foi comovente encontrar a tua expressão embevecida a olhar para mim (e a tua era igual), enquanto me vinha de olhos fechados.

Primeira regra (prática) do blog-engate, esclarecimentos:

"Não, nunca te linkei, sabes, esta minha timidez...mas lia, lia SEMPRE"

Primeira regra (prática) do blog-engate, atitude:

Convém referir que arquivos antigos foram lidos e devidamente apreciados:
"Ah o que escreveste em 2004 sobre as orquídeas, meu Deus, ainda hoje tenho calafrios quando penso nisso, sabes, naqueles momentos em que o mundo se imobiliza"
(merdas assim)

Primeira regra (prática) do blog-engate, frase chave:

"Gosto muito do seu blog."

10.7.06

just friends

Às vezes, à mesa, passas à minha frente para apanhar o sal ou a salada e apetece-me inclinar-me para dar um beijo no teu braço. Às vezes encostas o teu ombro e sinto-te quente e apetece-me ver de que temperatura és no resto de ti. Às vezes olho para o teu corpo, para o teu rabo, e apetece-me ver se será tão bom de toque como de vista. Gostava de saber a que sabe beijar-te.
Mas depois a nossa amizade ia estragar-se
e já não íamos poder ir juntas às compras.

9.7.06

suturas

Tinha uma cicatriz a toda a largura do ventre, um vinco a unir as saliências ilíacas. Pensava que até era pouco, ao lembrar-se de todas as vezes que fora cortada ao meio.

8.7.06

Aparência

Não sabia bem porquê, tinha ficado um buraco furado no lugar do seu coração. Não era a forma ou a dimensão que a incomodavam, era sim, estranho o facto de conseguir trespassar-se a si própria com apenas um dedo.

Amorzinho, vai-te foder

Acordaste a minha líbido, que tanto demorei a silenciar. Eu, que nos dias em que fodia, fodia todos os dias. Não queria o grelo aos saltos e as mamas duras, a língua a tocar na aresta dos dentes em antecipação. Nem o torpor insensato nas depressões internas das coxas, enquanto sentia escorrer a vontade pelo eixo de simetria. Consegui deixar de me foder com os dedos porque estava farta de me vir sozinha.
Chegas, fascinas-me com palavras. A minha tesão com a tua voz. O teu cheiro, pele, as duas mãos. Rendes-me nua, viras-me de costas, do avesso, prendes-me o corpo à distância do teu. Prendes-me o corpo, presas as mãos (para que não te possa tocar). Dás-me finalmente a língua e penso que te vou ter. E então vais-te, levas-me o sono e deixas, em troca, uma cona a arder.

7.7.06

Uma às três

Almoçamo-nos ali no banco da frente do carro estacionado no parque das Docas. Sempre o mesmo sítio, lá para o fundo, frente a um armazém. Fico a olhar para os vidros partidos, a atenção quebrada nas tuas mãos mergulhadas no meio das minhas pernas. Puxas-me os lados para os lados, a frente para a frente, o atrás para atrás, organizas-me em voltinhas e passeios, maratonas-me em corridas de obstáculos e sprints finais. Eu grito, pára, pára, agora mesmo, não continues, pára! E não percebo porque é que ficas tão indignado quando te respondo, a rir, não, não é isso, deixaste-me foi aflitinha para mijar.
Podíamos deixar-nos de recadinhos e de trocas ilegais de emepetrês, porque o que eu queria mesmo era foder-te. Nem terias de me foder também, qual olho por olho dente por dente: seria apenas eu, eu a comer-te os olhos todos e a morder-te a dentadura inteira. Até podias ficar quieto a assobiar para o lado, numa pose de rei momo e cumprindo a tua vocação de ausente, que eu bem nas tintas. Fodia-te até ao tutano, até nunca mais seres capaz de olhar entre as pernas de outra qualquer sem te lembrares de mim (o que já acontece agora, mas pelas razões erradas), até o cheiro da minha cona selvagem ficar para sempre agarrado à tua glande, como o cheiro dos mortos se cola à pele dos vivos. É claro que no entretanto teria de te magoar, como forma de me alargar no prazer de me vir enquanto te tivesse por baixo, entesourado. Não, nada disso: nem puxões de cabelos, nem apertões nos tomates e, muito menos, chicotadas (talvez alguns arranhões...): querer-te-ia intacto, para te poder foder uma e outra vez, quando me apetecesse e de preferência nos dias em que estivesses mais cansado e a precisar de seres bem fodido por uma outra que não a vida em geral. Ir-te-ia à boca e ao mesmo tempo ao cu: um dedo, dois dedos a rondarem-te o ânus, a pedirem-te licença para entrar e nunca mais quererias outra coisa. Sofrerias que te fartarias, sim, mas quando eu me fosse embora a meio da noite e o teu corpo desatasse a gritar até acordar os vizinhos. Depois, no dia seguinte, irias trabalhar desprovido de vontade própria, com a cabeça tão vazia como o teu caralho sugado e chupado, que ficaria para sempre teso de modo a que, quando não dentro de mim, passasses a servir para pouco mais do que cabide à entrada do open space.

E de jacto!




Não há homem no mundo que proporcione tantos orgasmos múltiplos como uma bicha.

5.7.06

Volta a França

Fuuuuuuuu... Mariana, tinhas razão.
Ainda por cima eles eram 12, contavam com o camisola amarela.
O camaraman tinha uma fixação por um ex-treinador francês - este é o único dado digno de nota no que acabei de ver.
Admito: uma vez ou outra, tenho mau perder.

Adenda: um condutor de boa índole (diferente de mim, portanto) foi festejar e apitar para a rua, agitando a bandeirinha portuguesa. Sempre me arrancou uns sorrisos.

3.7.06

Quando um gajo, que me está a tentar convencer que sabe do que é bom, me diz
"Sabe… eu, quando vou de férias vou para hotéis e quero sempre pequeno almoço bifet (sic) e depois não como nada o dia todo, porque eu quando vou de férias não gosto de ter trabalho, e quando o pequeno almoço não é bifet e é preciso estar sempre a pedir "quero mais um pão" reclamo e peço o meu dinheiro de volta"
Por alguma razão perde toda a credibilidade…

2.7.06

fico parva

À porta do café, no centro comercial, três figuras: um pai, uma mãe e um filho. De súbito a mãe deu uma valente canelada no miúdo. Como ele gritou (uivou!), ela esbofeteou-o. O pai ficou ali, a tentar calar a criança, que chorava e justificava o seu choro com insistentes «mas ela é que me bateu...». Pouco depois vi a mãe: com expressão agastada, dentro do café, descalçava o seu sapato bicudo de salto agulha para esfregar o pé dorido. Depois voltou atrás e repreendeu o pai por este ter consolado o rapazinho. Quando um dos meus filhos me perguntou o que se tinha passado, fiz questão de lhe explicar tudo com muitos gestos e de ser muito mal-educada, apontando várias vezes para a senhora. Aparentemente não fui bem sucedida no meu intuito, porque ela, assistindo à minha representação, não revelou ter ficado nem um pouco envergonhada.

cada um com a sua













Nós ficamos por lá, com a nossa vitória.
Eles, levam a deles para casa.

1.7.06

depois da vitória, a comédia

As maravilhas que tenho ouvido:

a ONG Scolari - Eu quero agradecer ao Senhor Secolare, que mostrou estar ao lado do nosso país, é um amigo de Portugal.

todos juntos - Portugal agora é um país unido. Os portugueses agoram vão juntar-se todos por um país melhor.

a embriaguez pra esquecer - Agora podemos esquecer a crise, as dificuldades que Portugal tem enfrentado, com esta união e com a festa da vitória.

Postiga, Simão, Ronaldo- mas, sobretudo, RICARDO!!

Aos 22 minutos de jogo, fairplay está a ser uma palavra portuguesa.

Intervalo. Figo continua a dar o litro, vedeta sem vedetismo. Enfim, também é por isso que lhe pagam tão bem...
Quanto ao fairplay, já lá vai.

62 minutos. Rooney acaba de atentar contra a fertilidade de Ricardo Carvalho. Cartão vermelho. Disseram-me que assim não joga no próximo jogo. Qual próximo? hehe.
A quantidade de vezes que ouvi «bola para Tiago», leva-me a pensar que Deco não foi mal substituído: o rapaz desmarca-se bem. Miguel e Ricardo Carvalho confirmam as expectativas. Cristiano Ronaldo está mais crescido.

Ai, o livre. Grande defesa de Ricardo (coração de Leão).
Os ingleses estão com um jogador a menos e puseram em campo uma girafa. Rio Ferdinand, da mesma equipa, é dono de um lindo nome e de uma beleza ecléctica.
Agora, prolongamento... e penalties...

Ganhámos. Há festa na minha rua. Os meus filhos partiram-me duas colheres de pau.

*Post actualizado ao longo do jogo.

Benedicta

Caíra mesmo na pia de água benta. Assim se explicava a sua virtude.
A mãe, depois de uma breve troca de olhares, a caminho da igreja, fora assaltada por lembranças recentes que a tinham coberto de um rubor quente.
No furor de se benzer, sentara a menina na beira da pia. A bebé resvalara e caíra na água temperada com suores vários e muita poeira.
Era compreensível, toda aquela santidade. Alguns, todavia, defendiam que esta fora resultado do som opaco - não da água. Não teria sido uma benção divina: algo se perdera com o embate da nuca contra o rebordo de mármore imaculado.

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