21.10.05

curiosidade

Não sei que idade teria, talvez uns 5, 6 anos, quando a Isabelinha vinha a nossa casa. A Isabelinha era nossa amiga e era muito marota. Ensinou-nos uma brincadeira passada no hospital, em que uma fazia de doente, outra de médica e a terceira de enfermeira. Curiosamente, todos os diagnósticos passavam por uma minuciosa análise do pipi e uma cuidada inspecção do ânus, alternando doutas apreciações e risota.
Não me lembro de ter particular interesse pelo sexo oposto, exceptuando uma vez em que espreitei o meu pai antes de entrar para o banho, tinha eu três anos. A minha mãe apanhou-me em flagrante delito, de cabeça virada para baixo, a espreitar pelas frestas de ventilação – numa altura em que ainda se usavam esquentadores dentro da casa de banho. Levei três palmadas no rabo e creio que foi a punição e a sensação de injustiça perante uma curiosidade que eu considerava legítima, que fixaram na minha memória a imagem do meu pai completamente nu.
As pilinhas dos meninos da minha idade interessavam-nos pouco; pelo menos não o manifestavamos abertamente. Lembro-me que eram por vezes, se vistas de relance, alvo de alguma chacota.
Mas o nosso corpo – o nosso corpo nós inspeccionávamos, comparávamos, espreitando-nos umas às outras e esclarecendo as diferenças observadas durante o exame geral. Nessa fase, no entanto, recordo-me de que o papel mais desejado era o de médica, o que indica, talvez, que poder observar, até ali, se revestia de maior interesse do que ser tocada.
Foi pouco tempo depois que comecei a explorar de um modo consciente o prazer que mexer no meu corpo provocava.
É natural que a masturbação feminina seja pouco discutida. Na minha adolescência, revistas pornográficas debaixo do colchão de um rapaz eram vistas com complacência, enquanto numa rapariga um meneio de ancas mais atrevido, mesmo que inconsciente, suscitava as mais duras críticas maternas. Os rapazes masturbavam-se em grupo. Sendo um acto testemunhado, tornava-se quase oficial. As raparigas faziam-no em privado, muitas vezes com a certeza, só perdida muitos anos mais tarde, de que estavam a fazer qualquer coisa de aberrante, seguramente uma grande porcaria.
Talvez, nesse tempo, se me tivessem perguntado se mexia no meu corpo eu tivesse respondido com uma mentira. Talvez todas as raparigas o façam sem saber que não são as únicas. Eu, pelo menos, não sabia.

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