27.1.06

Poposta

Proponho uma nova abordagem ao cálculo dos índices de desenvolvimento de uma nação.
A saber,
- para indexação ao índice de parolice e de subdesenvolvimento (mesmo que mental), proponho que passem a ser contabilizadas as pessoas que acrescentam deliberadamente ao próprio nome um título académico, as que insistem em ser tratadas por doutor (ou engenheiro, ou o raio que as parta), e as que se fazem valer do tal título para subordinarem os colegas de trabalho.
É muito lindo (lindo, e não bonito), receber correspondência assinada pela Dra. Marta Sobral, directora de marketing, ou pelo Eng. Carlos Abadia, responsável pela área de projectos do sítio tal. A partir de agora, quando receber uma carta dessas, vou responder e exigir um pedido de desculpas por não constar no destinatário, antes ou depois do meu nome, a referência “mãe, dona de casa, carregadora de sacos de compras, limpadora de rabos com cocó, e cozinheira”, e que, independentemente de eu ter ou não estudado muito, fazem de mim a pessoa que efectivamente sou.

Abomino especialmente as situações em que a hierarquia se constrói com base em letras (de acrescento ao nome) e não em ciências (do saber).
(Não gosta da palavra hierarquia mas isso é porque se calhar eu sou um bocado hippie)
Sei, porque vi, que eu sou como o tomé, que em muitos sítios por este país fora, e também noutros, um bocadinho mais pobres ainda do que o nosso, que uma parte do pessoal que manda bitaites (uma parte não é o todo) não percebe nada, mesmo nada, do que os tristes dos mandados fazem....

Este país não anda para a frente por vários motivos mas um deles é porque o nosso índice de parolice é uma coisa tão complexa quanto delicada:
“O senhor doutor fulano de tal precisa de falar consigo”
Se eu responder
“Diz ao Zé que eu já vou”
Estou lixada
Mesmo que para mim ele seja o Zé com quem eu tomo café todos os dias. Da porta do café para fora, o Zé, como acha que é mais do que eu, passa a senhor doutor José coiso e tal. Normalmente, a proporção que se lhe acresce no nome decresce-lhe em inteligência e é pena. O Zé é boa pessoa e se, em vez de estar sentado numa secretária a dar peidolas de sabedoria instantânea tentasse perceber como é que se faz um puré com batatas e deixasse o senhor doutor enfiado numa gavetinha, e aprendesse a tratar os outros de igual para igual, olhos nos olhos e sabedoria-na-sabedoria, então tínhamos coisa para andar. Não temos e é pena.

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