31.1.06

o amor

Durante muito tempo tive a ambição de um dia viver no campo, tratar de um pomar e de uma vinha.
Olhou-o. Ele abriu mais os olhos e, num aceno de cabeça, o seu rosto interrogou-a, mudo.
Não te conhecia esse sonho, foi a explicação.
Eu já existia antes de te conhecer, respondeu (num tom levemente sarcástico).
Eu sei. Só digo que nunca mo contaste.

Durante o brevíssimo silêncio que se seguiu, ela constatou que ele lhe dizia muitas vezes que ou ela mudava muito ou havia sempre camadas novas por descobrir. Ele, tinha acabado de romper, po um instante, a opacidade já espessa da completa previsibilidade.
Era aí que devia residir o amor, pensou. O mistério prescrutado no outro nunca estivera em cada um deles, mas nessa entidade estranha a ambos.

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