19.4.06

Morremos aos poucos

Morremos. Um bocadinho de cada vez, os dois ao mesmo tempo, vamos morrendo. Morremos em cada frase que forçamos inócua, em cada espaço vazio onde apenas sobrevive a respiração, em cada silêncio quebrado apenas pela vontade que o outro diga mais, alguma coisa, disseste alguma coisa? não. pareceu-me. mas não disse, estava só a pensar. em quê? em nada. ah. Qualquer coisa que seja mais do que coisa inócua, mas que não seja coisa amarga, qualquer coisa que quebre o gelo mas não doa, vamos morrendo mas conversamos sobre o tempo e a chuva docemente, para não perturbar o momento, já não é em bicos dos pés, é pairando mesmo; como se pairando sobre as coisas as torne menos
silenciosas

menos morte adiada.

A distância é assim, alimenta-se sozinha, não precisa de mais nada senão de existir para crescer. E cresce, independentemente da vontade de quem está em cada ponta. A distância só se vence se combatida ferozmente; e todos os verbos esperar e querer e desejar e ter esperança e dar e entregar e conversar docemente sobre temas inócuos e até o verbo amar, para a distância não passam de mais sustento.

(jan 06)

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