Beauty is on the eyes of the beholder
Quando era miuda era o patinho feio. As senhoras da mercearia diziam "deixe ir esse menino primeiro", chamavam-me cigana, tinha bigode. Quando jogavamos aqueles jogos em que era preciso haver prémios e castigos, "dar um beijo à Isabel" era um castigo pior que correr nu à volta da cantina a gritar o meu pai leva no rabo. Mesmo depois da puberdade, havia miudas que tinham as mamas maiores e os rabos mais redondos e que tinham todos os rapazes caídos por elas. Eu sempre achei que tinha uma beleza incompreendida, e que todos os outros haviam de o descobrir um dia, que fazia falta apenas um pouco de logistica: um dia haveria de ter a oportunidade e o dinheiro para arranjar unhas e cabelos, fazer limpezas de pele, tirar pelos e comprar roupas bonitas e aí sim, o mundo iria apreciar a top model que há em mim. Volta e meia fazia uma pequena tentativa de ingressar no clube das bonitas: comprava um top, fazia umas tranças, arranjava uma saia, até ao dia em que por acaso acertei num corte de cabelo mais favorecedor e umas 5 pessoas disseram que eu estava bonita e me ficava bem. Foi aí que eu disse de mim para mim "vêem quem tinha razão afinal?" e nunca mais ninguêm me tirou da cabeça a ideia de que sou a gaja mais gira do mundo. Claro que há dias em que me sinto feia, velha e gorda mas eu sei que lá no fundo no fundo sou a boazona do costume, apenas com alguma falta de tempo para ir à esteticista e ao ginásio.
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