16.2.06

a escutar conversas alheias

Na esplanada, na mesa da frente, sentaram-se um rapaz e uma rapariga, adolescentes. Enquanto comia o bitoque ensopado em óleo, sem tirar os óculos escuros, escutava a conversa entre eles.
Eram apenas amigos. Talvez não devesse dizer “apenas”: sempre acreditei que as amizades intersexuais adolescentes são tão importantes para o conhecimento e tolerância do sexo oposto como os namoros. Ou mais ainda.
Trocaram algumas informações importantes. Ela ensinou que não se deve pôr a mão na cara, porque a sujidade das mãos pode estimular o aparecimento de borbulhas. Explicou que era por isso que agora, sempre que está cansada, assenta o queixo na mão, ao invés da bochecha. Ele rebateu que então ela não deveria fumar, porque o tabaco acelera o envelhecimento da pele. A miúda ripostou que ele estava a beber café e que o café faz amarelecer os dentes.
Acerca do amor, ela pragmaticamente admitiu que os seus dois últimos namorados a tinham encornado. Um deles, sabia que sim; em relação ao outro, tinha apenas a certeza. O amigo perguntou-lhe se ela não lhe tinha feito o mesmo, ao que ela respondeu que não: não fazia aos outros o que não gostava que lhe fizessem a ela. Perguntou-lhe ainda se tinha chorado, mas ela esclareceu-o, num tom orgulhoso - sabes que isso do choro, é tudo filme: as raparigas choram à vossa frente, mas é só para ver se por fim vos sensibilizam...

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