Não há resposta
A pergunta aparece, assim, de repente, tão inesperada como um tijolo a cair de um décimo terceiro e ainda se está a tentar apanhar os bocados de cérebro que voaram para todos os lados quando se ouve outra vez, talvez com o pedaço de ouvido que sobrou do estoiro de neurónios, ou então em repeat mode, a loopar as poucas sinapses que cairam ao chão e não se escaparam pelos buraquinhos da grade de esgoto
quanto tempo, mas quantos dias, quanto tempo, quanto tempo?
Não sei responder, não tenho boca de qualquer forma, transformou-se numa massa mole meio avermelhada (que os tijolos e a força da inércia e mais a gravidade, aquela porcaria é do piorio) e não digo nada senão lugares comuns, que isso passa, tem calma que isso passa, tudo passa, é tudo uma questão de tempo e agradeço a todos os santinhos pelo tijolo que me impede de responder que na realidade
não passa.
Lamento imenso. E assim dito de chofre, eu sei, não é simpático, mas que se há-de fazer, não é, que te diga que passa, claro que sim, deixa lá isso, pensa noutra coisa, compra uns sapatos que logo te animas, eu sei, é o que se deve, nestas circunstâncias, é o melhor, a única coisa mesmo, conselhos tretosos e abraços silenciosos, oferecidos num chá de sacos de compras, gasta o visa, gasta o visa, põe-te bela, mas o problema, o problema é que não resulta; sabes-te calçada, sabes-te bela, sabes-te mais do que aquilo que queres ouvir e que eu te diga e eu também sei. Mandas vir o tijolo na tua pergunta, sabes que te caiu em cima, sabes que me caiu em cima, sabes que nos cai a todos em cima e sabes-te de cabeça rebentada e sabes da minha cosida de outros tijolos e queres saber quanto tempo demoram os pontos a sair, quanto tempo demoram os pontos a passar, quanto tempo demoram os pontos a cicatrizar e quanto tempo mais terás de esperar. E sabes, sabes com a parte que te sobra, que me sobra, que nos sobra das sinapses que ainda teimam em funcionar que não é assim, que não pode ser assim, que há outra forma, ou esperas, esperas que haja outra forma, com toda a esperança que assiste aos que sentem já que não há nenhuma.
Lamento imenso. Porque isso não passa. O que passa é nós. Nós é que passamos, nós é que nos cosemos a sangue frio e nós é que desmaiamos com os pontos que nos damos. Quando acordamos nada passou, nós é que passámos. Já não é nós. É outra pessoa que ali está. Parece a mesma até ao espelho, até quando nos vemos por dentro, mas já não somos. Desfizemo-nos e o que fica é
outra coisa.
Não sei quando. Acho que nunca. Lamento imenso. É o que somos, a soma de tudo quanto nos ficámos, nos ficou, não passou. Enganamo-nos a pensar que sim, é mais simples; e acordamos com tudo o que temos e mais algumas coisas; as que não passaram e que acabamos por aceitar, abraçar e que nos entram na pele por osmose.
Somos nós com outras pessoas dentro.
quanto tempo, mas quantos dias, quanto tempo, quanto tempo?
Não sei responder, não tenho boca de qualquer forma, transformou-se numa massa mole meio avermelhada (que os tijolos e a força da inércia e mais a gravidade, aquela porcaria é do piorio) e não digo nada senão lugares comuns, que isso passa, tem calma que isso passa, tudo passa, é tudo uma questão de tempo e agradeço a todos os santinhos pelo tijolo que me impede de responder que na realidade
não passa.
Lamento imenso. E assim dito de chofre, eu sei, não é simpático, mas que se há-de fazer, não é, que te diga que passa, claro que sim, deixa lá isso, pensa noutra coisa, compra uns sapatos que logo te animas, eu sei, é o que se deve, nestas circunstâncias, é o melhor, a única coisa mesmo, conselhos tretosos e abraços silenciosos, oferecidos num chá de sacos de compras, gasta o visa, gasta o visa, põe-te bela, mas o problema, o problema é que não resulta; sabes-te calçada, sabes-te bela, sabes-te mais do que aquilo que queres ouvir e que eu te diga e eu também sei. Mandas vir o tijolo na tua pergunta, sabes que te caiu em cima, sabes que me caiu em cima, sabes que nos cai a todos em cima e sabes-te de cabeça rebentada e sabes da minha cosida de outros tijolos e queres saber quanto tempo demoram os pontos a sair, quanto tempo demoram os pontos a passar, quanto tempo demoram os pontos a cicatrizar e quanto tempo mais terás de esperar. E sabes, sabes com a parte que te sobra, que me sobra, que nos sobra das sinapses que ainda teimam em funcionar que não é assim, que não pode ser assim, que há outra forma, ou esperas, esperas que haja outra forma, com toda a esperança que assiste aos que sentem já que não há nenhuma.
Lamento imenso. Porque isso não passa. O que passa é nós. Nós é que passamos, nós é que nos cosemos a sangue frio e nós é que desmaiamos com os pontos que nos damos. Quando acordamos nada passou, nós é que passámos. Já não é nós. É outra pessoa que ali está. Parece a mesma até ao espelho, até quando nos vemos por dentro, mas já não somos. Desfizemo-nos e o que fica é
outra coisa.
Não sei quando. Acho que nunca. Lamento imenso. É o que somos, a soma de tudo quanto nos ficámos, nos ficou, não passou. Enganamo-nos a pensar que sim, é mais simples; e acordamos com tudo o que temos e mais algumas coisas; as que não passaram e que acabamos por aceitar, abraçar e que nos entram na pele por osmose.
Somos nós com outras pessoas dentro.
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