o escrutínio do talento
Noutros blogues, em caixas de comentários e nos bastidores, a fox trotter incomoda, o que é muito divertido. Erotismo, pornografia, ou apenas mau português? Confesso que não me excita grandemente a distinção erotismo/pornografia - não teria bagagem para tanto, nem tempo para a estudar e escarrapachar aqui com os básicos. Apenas isto: a premissa de que o erotismo é bom, porque eventualmente revelador de alguma expressão( literária) artística, e de que a pornografia é má, porque meramente descritiva de uma função animal básica com intuitos estimulantes (logo, arredada de qualquer manifestação estética), não me convence. Pode haver elegância e talento na crueza eficaz da pornografia, como pode o erotismo revelar uma mediocridade insuportavelmente pirosa. As distinções artificiais entre realidades de fronteiras pouco definidas, valem o que valem e nunca chegam a lado algum.
Entretanto, cheguei a este post do oldman que é, no fundo, um desabafo de homem queixinhas com beicinho: se for uma mulher a falar da dominação sexual de um homem, por muito cru que seja, é divertido, é light, parabéns pela coragem aka, é erótico; se formos nós, homens, a fazê-lo em relação a uma mulher, é machista, é pornográfico, está mal, pá, caem-nos logo em cima.
Eu até entendo e simpatizo com este ponto de vista, no entanto acho que o meu post, a ser considerado erótico, não o será por eu ser mulher tout court, mas talvez porque, para além do sexo cru, seja uma divagação onírica que é quase uma história e porque pode haver quem nele tenha visto um certo sentido estético e uma ironia que pretendi fina ( pelo menos foi essa a intenção, mal ou bem conseguida, não sei). Já o texto do OldMan é olhado (até por ele mesmo) como pornográfico, e não porque tenha sido um homem a escrevê-lo, mas porque é uma caricatura deliberadamente boçal (e, como ele próprio admite, inferior ao original). Faz sentido: quem nos lê tende a catalogar-nos com maior ou menor benevolência, consoante tivermos sido mais ou menos bem sucedidos no que escrevemos. Faz sentido, mas adianta pouco.
Numa coisa, o OldMan acertou: o meu post é mais sobre dominação do que sobre sexo; é muito mais sobre o forçar de uma submissão perante a frustração que é o livre arbítrio do outro, do que sobre sexo. Este surge como instrumento para conseguir o domínio através de um prazer que subjuga o corpo e a mente. Sim, o texto fala de orifícios e do que fazer com eles, fala de carne, de dor e de desespero. Mas também do homem como objecto sexual; do homem que se ama, reduzido a objecto sexual; do homem que se quer mas não se pode ter, reduzido por fim a mero objecto, já nem sequer sexual, ou seja, reduzido a utensílio. E da frustração raivosa que nos escarafuncha as entranhas e nos impele a violentar o outro. Não tão simples como reduzir o texto a uma descrição mecanizada do acto sexual, com o mero intuito de excitação de terceiros, parece-me (independentemente da qualidade literária, da falta dela, e do número de punhetas que efectivamente foram, ou não, esgalhadas por quem o leu).
Para mim, os espartilhos mentais que ainda levam muita alminha a catalogar as manifestações culturais (em sentido lato) relacionadas com o tema sexo, como diferentes entre si, consoante tenham origem masculina ou feminina, basicamente porque as mulheres, (tradicionalmente, as vítimas), têm buracos, são penetradas e por isso devem proteger-se e resguardar-se, e os homens são os porcos chauvinistas insensíveis que chegam e zuca! zuca!, fazem-me cada vez menos sentido. Em algum momento, todos somos uma coisa e outra, agressores e agredidos, violadores e violados (em sentido figurado, calma!).
Nos meus posts há sexo desabrido, violento, escancarado? Também. Há sexo com as palavras todas, num grafismo para muitos intolerável, grosseiro, nauseante? Fluidos a mais? Amor e rodriguinhos a menos? Admito que sim. Para mim, é mais do que isso. Mas podia ser só isso e serem bons na mesma. Ou maus. Ou serem sobre outra coisa qualquer. A mim, francamente, o que me interessa é o escrutínio do talento (ou da falta dele, claro).
Entretanto, cheguei a este post do oldman que é, no fundo, um desabafo de homem queixinhas com beicinho: se for uma mulher a falar da dominação sexual de um homem, por muito cru que seja, é divertido, é light, parabéns pela coragem aka, é erótico; se formos nós, homens, a fazê-lo em relação a uma mulher, é machista, é pornográfico, está mal, pá, caem-nos logo em cima.
Eu até entendo e simpatizo com este ponto de vista, no entanto acho que o meu post, a ser considerado erótico, não o será por eu ser mulher tout court, mas talvez porque, para além do sexo cru, seja uma divagação onírica que é quase uma história e porque pode haver quem nele tenha visto um certo sentido estético e uma ironia que pretendi fina ( pelo menos foi essa a intenção, mal ou bem conseguida, não sei). Já o texto do OldMan é olhado (até por ele mesmo) como pornográfico, e não porque tenha sido um homem a escrevê-lo, mas porque é uma caricatura deliberadamente boçal (e, como ele próprio admite, inferior ao original). Faz sentido: quem nos lê tende a catalogar-nos com maior ou menor benevolência, consoante tivermos sido mais ou menos bem sucedidos no que escrevemos. Faz sentido, mas adianta pouco.
Numa coisa, o OldMan acertou: o meu post é mais sobre dominação do que sobre sexo; é muito mais sobre o forçar de uma submissão perante a frustração que é o livre arbítrio do outro, do que sobre sexo. Este surge como instrumento para conseguir o domínio através de um prazer que subjuga o corpo e a mente. Sim, o texto fala de orifícios e do que fazer com eles, fala de carne, de dor e de desespero. Mas também do homem como objecto sexual; do homem que se ama, reduzido a objecto sexual; do homem que se quer mas não se pode ter, reduzido por fim a mero objecto, já nem sequer sexual, ou seja, reduzido a utensílio. E da frustração raivosa que nos escarafuncha as entranhas e nos impele a violentar o outro. Não tão simples como reduzir o texto a uma descrição mecanizada do acto sexual, com o mero intuito de excitação de terceiros, parece-me (independentemente da qualidade literária, da falta dela, e do número de punhetas que efectivamente foram, ou não, esgalhadas por quem o leu).
Para mim, os espartilhos mentais que ainda levam muita alminha a catalogar as manifestações culturais (em sentido lato) relacionadas com o tema sexo, como diferentes entre si, consoante tenham origem masculina ou feminina, basicamente porque as mulheres, (tradicionalmente, as vítimas), têm buracos, são penetradas e por isso devem proteger-se e resguardar-se, e os homens são os porcos chauvinistas insensíveis que chegam e zuca! zuca!, fazem-me cada vez menos sentido. Em algum momento, todos somos uma coisa e outra, agressores e agredidos, violadores e violados (em sentido figurado, calma!).
Nos meus posts há sexo desabrido, violento, escancarado? Também. Há sexo com as palavras todas, num grafismo para muitos intolerável, grosseiro, nauseante? Fluidos a mais? Amor e rodriguinhos a menos? Admito que sim. Para mim, é mais do que isso. Mas podia ser só isso e serem bons na mesma. Ou maus. Ou serem sobre outra coisa qualquer. A mim, francamente, o que me interessa é o escrutínio do talento (ou da falta dele, claro).
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