18.10.05

Amantes literários

Numa altura da vida em que tive um namorado muito erudito e intelectual (a bem dizer era um amante, visto que tinha uma mulher e filhos em casa, mas isso são outros quinhentos), a criatura resolveu que um bom rabo e cabelo a condizer não lhe chegavam e toca de me tentar pigmaliar: desenhou-me um mapa de cultura literária e disse-me: leia isto, fôfa, e vai ver que não precisa de ler mais nada: está aqui tudo o que precisa para ser um bocadinho mais do que a querida tontinha que é.

O mapa escrito num guardanapo de papel da Versailles com uma Mont Blanc (a tinta toda a passar para o lado de lá da folha) tinha setas e prioridades e, evidentemente, perdi-o na hora, mas tenho ainda uma vaga ideia de setas a apontar de Cervantes para Joyce e de Homero para Proust ou então era o contrário, a tinta borrada não ajudava.

Nunca li nada disso.

Sei que de Proust, a uma dada altura há-de aparecer um ciúme tão louco que o ciumento tem ciúmes dele mesmo, da pessoa que foi no passado, contou-me o tal erudito, entre ataques parecidos: mas, para uma tonta gira, que se faça uma americanada de uma relação clandestina, ainda vá; agora um filme francês a preto e branco, não há cu que aguente.

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