3.6.06

Inevitável




Transformemos, pois, pessoas normais em monstros. Não temos outra saída. Em espaços muito apertados, aumentamos de tamanho, nós e a nossa bagagem de garrafas rotuladas com desenhos de caveiras. É muito peso e não há espaço suficiente. Não cabe senão um e esse um teremos que ser nós, apesar de agarrarmos as garrafas pelo gargalo e despejarmos o conteúdo pela goela abaixo, uma após outra. Envenenamo-nos numa bebedeira enlouquecida, mas continuamos a não ter espaço senão para um. Transformemos, pois, pessoas normais em monstros. Encontremos a saída, um buraco no chão, escuro e vazio. E façamos então de uma pessoa normal um monstro. Não é fácil, não é simples, requer exercícios de imaginação complicados, temos que ter coragem e estômago para transpôr tudo para a dimensão da maldade. Agarrar nas boas lembranças primeiro: atirá-las buraco abaixo. Quando só sobrarem as outras, é preciso torcer cada uma delas, pelas pontas e em sentido contrário, até que sejam espremidas ainda do que existir de bom; que fiquem secas e encarquilhadas e que as pintemos então com o líquido que nos sobrou das nossas garrafas de rótulos em bandeira de pirata em barco-fantasma.
Transformemos então o que resta ainda da normalidade que nos foi cara.
No fim, o monstro. Buraco abaixo com ele.
Não há outra saída.

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