21.9.06

Modelos errados

Hoje sou eu que venho aproveitar-me deste espaço público tão gentilmente cedido (e nada merecido) para me pôr aqui a reclamar porque no fundo a vida corre-me mal e a culpa é sempre de todos os outros menos minha, e hoje até decidi que a culpa é da sociedade em geral o que facilita a minha acusação pois que a sociedade sempre é uma gaja de costas largas e com muito arcaboiço para aguentar estas reclamações e muitas mais!

Hoje não é do tempo que me queixo embora o raio da chuva não me tenha deixado dormir decentemente mas se calhar é também por isso que hoje me sinto assim tão inconveniente! E também não é da falta de companhia que sinto mais numas noites que noutras que hoje passei a noite toda a ouvir o vizinho do lado a ressonar e a mulher a reclamar e eu penso que ao menos eu tenho a sorte de não ter que aturar uma mulher daquelas todas as noites que se eu fosse ao desgraçado do gajo já me tinha mudado que uma pessoa já nem pode ressonar em paz sem haver quem reclame!

O que eu venho aqui dizer é que sinto, penso e acho que os nossos modelos estão errados! Não há outra maneira de dizê-lo sem ser assim mesmo de chofre e a direito. Esta coisa do matrimónio para o resto da vida e nem pensar em olhar para o vizinho ou vizinha do lado que nos caem logo todos em cima com o pecado e o inferno e o fogo que tudo queima e a gente fogo a bem dizer só conhece um e é esse precisamente que nos impele a olhar para o vizinho ou vizinha do lado pois que a relva é sempre mais bonita e saborosa lá do outro lado que daqui a gente não vê as minhocas nem as ervas daninhas nem as pragas do Egipto que assolam todos os relvados mas que às vezes nos parece que é só mesmo o nosso!

Portanto aqui me declaro contra a monogamia e a fidelidade tal como o mundo dito civilizado a preconizam. É que simplesmente a coisa não dá meus amigos. Não tem pernas para andar! E pensar que há gente, coitados, que se esforçam toda a vida até ficarem azulinhos e tesos para todo o sempre, e nessa vida toda que podiam ter aproveitado mais ficaram ali agarradinhos ao terço e a quem sabe o que mais a rezarem e a rezarem e a reprimirem-se por alma de quem? Mesmo que eu acreditasse em deus (e eu não acredito mas isso é outra longuíssima história que se deus existisse haveria de ser um cabrão de um sádico e hoje já me estou a esticar o suficiente) por alma de quem haveria esse gajo de achar que nós, uns quantos biliões que andamos aqui todos aos encontrões, porque raio haveria ele de achar que nós temos que escolher um parceiro e que há-de ser o mesmo para o resto da nossa vida? Ainda por cima nós mulheres temos um ciclo reprodutor relativamente curto, diria eu que são para aí uns 20 anos se tanto o que é para aí um quarto da nossa vida, e portanto escolher um gajo para pai dos nossos filhos e depois gramá-lo para o resto da eternidade só porque sim?!

Comigo a coisa não cola! Não acredito na capacidade de ninguém em ser monógamo e fiel e os que mais juram a pés juntos que são, até se vai a ver e na volta são os que são menos! E depois é aquela coisa muito chata de definir onde estão as fronteiras que se para algumas mulheres a gente olha de lado e já tá a querer comer o gajo, para alguns homens a penetração nem sequer conta como traição! Se as fronteiras são assim tão ténues e se os modelos são assim tão castradores, algo está mal e muito mal!

Porque não assumimos logo e já que somos todos adeptos do amor livre? Que as pessoas dão-se a quem quiserem e quando quiserem sem terem que assinar papéis e jurarem a pés juntos que aquele anel que levam no dedo bem podem levá-lo num certo sítio e tão apertado que não terão coragem de o pôr em pé a não ser com a legítima? É que às vezes me parece que as coisas podiam ser muito mais simples se as regras fossem outras. E não digo que a gente não goste muito de algumas pessoas e que seja até possível gostar muito delas, e querer comê-las, durante muitos e longos anos. Mas é que realmente esta coisa de a gente ter que escolher só mesmo uma no meio de tantas, e depois ter que a gramar até ao fim dos nossos dias quer se goste quer não, e mais ainda termos que nos castigar pelos olhares indecorosos que lançamos ao vizinho da frente, isso é que sinceramente não!

Prontos, agora vou ali arrumar o meu banquinho e esconder-me durante alguns dias até que os insultos acalmem que eu cá gosto de reclamar mas nem por isso gosto de me pôr a jeito para apanhar!

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