13.9.06

O prometido é de vidro

Isto, como todas as outras coisas nesta vida miserável que é a nossa, funciona sempre mais ou menos da mesma forma. No início é sempre tudo fantástico e ai que nós somos todos tão amigos e o que é bom é para durar e de preferível para sempre. Mas depois a vida atravessa-se-nos no caminho e lá se vão os planos todos por água abaixo. Há uns quantos, poucos, que ainda se agarram desesperadamente às bordas da caixa do esgoto mas nem esses desgraçados aguentam muito tempo a levar com a trampa toda que se lhes vai despejando em cima na ordem dos dois litros por minuto de água repleta de variadíssimos objectos cujo nome me escuso de apontar até porque ainda agora mesmo acabei de jantar!

E por isso e por muita vontade que a gente tenha, porque há quem tenha ainda vontade, de escrever num blog, isto é como as promessas que se fazem num casamento ou num baptizado ou até mesmo… enfim, agora ia aqui toda lançada dizer que até mesmo num funeral mas tirando o morto que já está prometido aos vermes e insectos que o hão-de carcomer todinho até dele não sobrar rasto, é que realmente um funeral não é propriamente uma coisa para ser agora aqui discutida quando estamos aqui a debater as promessas que se fazem e depois não se cumprem. Aliás a parte boa das promessas, e acreditem que sublinho a palavra boa, é mesmo o facto delas não serem para cumprir! Se uma promessa tivesse que ser cumprida sob pena da pessoa morrer ou passar o resto da vida enfiada numa solitária a escrever cinco mil vezes por dia a frase "as promessas são para se cumprir" haveríamos de ir muito longe!

Assim para mim as promessas são como delicados e finos copos de cristal. Enfim, de cristal não serão que a minha mãezinha que os insectos que a comeram têm no seu delicado e fino estômago, não tinha dinheiro para esses devaneios e portanto os copos são mesmo de vidro e dos mais baratos que se vendiam lá na feira da Baixa. E como de trinta e cinco já só me restam três na cristaleira, porque os outros com o tempo foram estalando e quebrando, assim as promessas inevitavelmente estalam e quebram à medida que o cabrão do tempo lhes vai dando marteladas. A culpa não é de ninguém, que nós até temos vontade e da boa. È mesmo o gajo que não gosta de nós e vai estilhaçando as nossas promessas feitas copos de vidro ao mesmo tempo que esfrangalha todos os nossos sonhos e nos carrega o corpo de mazelas e maleitas que no fim já nem nos deixam andar direitas.

Portanto a culpa nem é nossa, nem é da vontade ou da falta dela, e nem sequer é das promessas de vidro que fazemos. É mesmo do cabrão do tempo que não pára de voar cheio de pressa para chegar sabe-se lá aonde. É que ao menos se nessa corrida desenfreada não passasse por cima de nós… mas não! Enfim, mais por cima de uns que de outros que eu por dentro ainda estou tal qual o dia em que nasci em que a minha mãezinha me olhou e declarou que eu iria ser igualzinha à Brigitte Bardot e toda a gente na maternidade concordou. É pena é que apesar de por dentro eu me sentir assim tal qual ela na altura em que deus criou a mulher, pois por fora estou mais parecida com ela como ela é agora.

Não é justo! E é isso que me traz aqui angustiada e desmotivada! Porque eu queria ser como a Brigitte Bardot foi e sempre e não percebo porque é que não sou! Nem percebo sequer porque é que ela já não é como foi! Se bem que isso já é problema dela e não meu que isto cada um sabe de si. E hoje à conta desta irritação momentânea contra o cabrão do tempo lá consegui agarrar um dos míseros três copos que ainda me restam antes que se estatelasse no chão. E para acabar agora em beleza aqui levanto o copo a mim e ao resto da cambada que por aqui vai dando um ar da sua graça. Enquanto houver posts há vida! E enquanto houver vida que haja quem saiba fazer dela uma festa! E que se lixem as promessas de vidro com prazo de validade! Os copos parto-os eu todos quando me apetecer! E depois compro outros e começa tudo outra vez!

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