Vamos (voamos) ?
Hoje apetecia-me fretar um avião. Hoje era eu que fazia as honras da casa. Estacionava-o ali à frente do rio, num sítio qualquer que se visse bem e que fosse central, abria-lhe as portas e convidava quem quisesse vir voar comigo. Podia não ser eu a pilotá-lo, mas era eu que ditava o destino. Quem viesse tinha que vir de olhos fechados, sem saber para onde seria levado. Nas viagens de longo curso às vezes o destino nem interessa assim tanto… desde que seja algo diferente, quem parte vai sempre em busca de algo novo e desconhecido.
Sinto falta da antecipação, dos preparos. De empacotar roupas e tralhas, sempre demais, tenho sempre medo de me esquecer de alguma coisa que me faça falta depois. De contar os dias, e as horas que faltam até me encontrar finalmente perante a enormidade do pássaro de metal. Tão grande para mim, tão pequeno para as travessias que se propõe fazer comigo lá dentro.
Apetece-me viajar para um qualquer sítio bem distante, e deixar a minha vida ficar em suspenso durante o tempo que estou fora, mesmo que me acusem de fugir duma realidade que me enerva e angustia mais do que devia. Mas não gosto de viajar sozinha, preferia calcorrear os caminhos que trilho com outros que se confessem tão aventureiros quanto eu.
Hoje apetecia-me fretar um avião e enchê-lo de gente diferente e animada, cheios de planos, trajectos, sítios a não perder, vamos votar nos sítios que queremos ver, partimo-nos em grupos porque nem todos gostam de história, nem de estátuas, nem de museus, nem de igrejas, nem de arte moderna, nem de jardins suspensos, nem de rios sem fim, nem de praias desertas, nem de comer sentados no chão petiscos inomináveis… mas um por todos e todos por um partilhando esse mesmo gosto de voar para um qualquer destino invulgar!
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