22.4.07

Postalinho de domingo

O Tejo coberto de velas brancas, vejo-as daqui da minha varanda. É o sinal do bom tempo, do fim do inverno, o tempo de limpar barcos e cascos, de subir e descer o rio. Imagino-os, aos marinheiros (mesmo que sejam de fim de semana), de óculos escuros e narizes vermelhos, sorrisos felizes do cheiro salgado, inventando que seguem mar dentro em vez da volta da praxe ao Bugio, que seguem pela água e pelos dias, sem horário de volta, só mar e céu e o silêncio do vento nas velas.
Havia um homem que toda a vida quis um barco. E tinha-o, a esse barco que saía todos os fins de semana, mar adentro, só mar e céu e o silêncio de quem fica em terra por não gostar de água e preferir televisão na cama. Toda uma vida de barcos e solidão até ao dia em que bateu a porta, fechou-a, deixando para trás o choque e a raiva da surpresa. Encontrou uns braços que talvez preferissem também o mar e um homem que trazia apenas uma mala e um coração cheio de vazios por preencher.
Depois vendeu o barco para poder começar de novo.
Curiosamente é feliz agora.

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