14.11.05

36

É o meu tamanho. Se estiver bem medido (porque ele há trinta e seis que parecem quarentas, talvez para enganar e agradar a clientela) caibo nele como uma luva apertada nos sítios certos e confortável nos outros. Sou uma mulher totalmente trinta e seis e, enfim, orgulho-me disso, num país onde a obesidade é (eu ia a escrever que é uma das doenças que mais mata, mas há sempre outra pior, consoante é dia do cancro do cólon ou da psoriase da unha do dedo grande do pé) uma grande maçada e desgosto para todas as comedoras de pastel de nata a acompanhar a bica. Eu, de ruindade, posso comer todos os pastéis de nata que me apetecer que o trinta e seis se mantém. Paciência, azareco, olhem meninas, acontece, umas nascem para serem mais gordas, outras mais elegantes (mas não magrézimas que os homens, dizem-me eles, gostam de sítios onde se possam agarrar que sejam fôfos e não ossudos).

Mas este texto não é (também é mas não é só) para colocar um tom verde nas cútis das mais redondas e balofas: este texto é para constatar uma alteração recente nos tamanhos trinta e seis das lojas espanholas mais (já foram mais) baratas: isto relativo a calças, portanto rabos 36. Que é o meu caso.

Ora andava eu nas compras de fim de semana a pensar que talvez me caissem bem umas calças daquelas de rapazola de liceu cheias de bolsos e côr de tropa, quiçá atilhos em baixo e porque não? Tendo figura para tal, pareceu-me boa ideia: mas já não me pareceu grande investimento o gastar o rendimento disponível em tal trapinho (quando há tanta tanga para comprar) - sendo isto um trapo literal, quaisquer meia dúzia de euros fariam a festa. E fui passear o meu rabo 36 pelos gabinetes de provas de tais lojas de porta de garagem e música a condizer, com vários trinta e seizes de várias cores para experimentar.

Pois, meninas, de rabo estava tudo maravilha o gancho a assentar como uma hábil mão que passa pelo meio das pernas vinda de tr...enfim, tudo nos conformes, mas a cintura, ah! A cintura era a desgraça! Por mais 36 que fossem as calças, as cinturas eram pelo menos 42. Tudo aquilo sobrava de pano e note-se que eu sou criatura que já conheceu as alegrias da maternidade e confesso que posso eventualmente no passado ter passados por tempos em que abria o botão de cima da calças. Mas neste caso, aberto ou fechado, ia dar ao mesmo: a cintura era igual à largura de ancas, em todos os modelos.

Devolvi-os à simpática menina (tamanho 40 em taco de pia de metro e meio) que me tinha atendido e já ia a sair, ainda intrigada, quando olhei melhor para ela, a amável balconista: mistério resolvido. As calças do mesmo modelo, a camisola fora de bordo, uma risca de cintura à vista como é de uso: as actuais cinturas de calças, meninas, são desenhadas para comportar e confortar um excesso de formosura que as adolescentes carregam ali por aquelas bandas; é o saco do pneu sobresselente. Os fabricantes hoje em dia pensam em tudo...

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