7.11.05

A menina que não sabia brincar

Era uma vez uma menina que tinha nascido sem saber brincar. Não era que ela não quisesse ou não gostasse de o fazer. Apenas não sabia como o fazer. De cada vez que via um outro menino ou menina a aproximarem-se na sua direcção ela sentia-se tão feliz por dentro… mas depois eles afinal não iam na direcção dela. Ou se iam, assim que ela abria a boca afastavam-se logo com um olhar embaraçado. “Desculpa, enganei-me…” era a frase que ela mais ouvia.

Um dia encontrou um sábio, daqueles muito velhos e com olhos muito doces e meigos. Ele viu-a ali sentada tão triste, encostada a uma árvore a contar as folhas e perguntou-lhe o que se passava. “Isso queria eu saber! Os outros meninos não gostam de mim. Não querem brincar comigo…” disse ela numa voz já meio sumida. “Estás a ser muito exigente contigo minha menina. Não querem brincar contigo porque tu não sabes brincar. Ninguém nasce ensinado… mas eu vou encontrar alguém que te possa ajudar!” e sorriu. Um sorriso contagiante e cheio de confiança e esperança. “Será? Conseguirei eu algum dia??” pensava a menina enquanto o seu coraçãozinho já se ia enchendo de alegria. “É tudo o que eu mais quero… alguém para me fazer companhia!”

E o velho assim fez. Percorreu vários países e cidades e conseguiu encontrar um menino que era diferente dos demais. Mais alto, mais esperto e sobretudo mais paciente. Ele no fundo tinha percebido que a menina era inteligente. Precisava era de ser ensinada de forma diferente. Falou com o menino e ele prontificou-se logo a ajudar a menina. E assim que se viram ela soube que ali estava alguém diferente. Alguém que se preocupava verdadeiramente. E ele ensinou-lhe tudo o que sabia sobre todas as brincadeiras e jogos próprios daquela idade. Com paciência, com carinho… do nada se fez tudo e ela ganhou tanta confiança que passado algum tempo já era ela que escolhia com quem queria brincar. Sabia tanto de todos os jogos que já apareciam meninos e meninas de todos os cantos a pedirem para ela os ensinar. E ela com paciência transmitia tudo o que tinha aprendido. Porque ninguém nasce ensinado…

***

Continuo de costas viradas para mim própria… e à espera que um dia apareça alguém mais velho e mais sábio que me aponte na direcção certa para sair do lugar onde me encontro. Já estou demasiado velha para aprender a brincar… mas acho que ainda tenho muito para aprender sobre a vida e sobre a melhor maneira de me relacionar com os que me rodeiam. Tenho pena de não ter aprendido sobre estas coisas mais cedo… porque ninguém nasce ensinado… mas também nunca é tarde demais para aprender. Ou será que é?...

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