11.12.05

"A mesma atitude pode despertar reacções distintas, dependendo de circunstâncias aleatórias"

Estava longe de pensar que um livro da Rita Ferro ("Não me contes o fim") me deixasse fechada em casa a pensar num domingo de sol como este que está hoje. Ora atentem nalgumas palavras que eu gostaria de ter escrito um dia…

«A verdade é que continuamos a desvalorizar o poder que exercemos sobre os outros, achando sempre que não conseguimos atingir o interlocutor. Mentira: basta por vezes uma frase agreste para lhe provocar os mais estranhos comportamentos, equívocos e intenções. Depois o outro fica embatucado, digerindo o que lhe dissemos, e nós supomo-lo indiferente. Outro erro: a indiferença não passa de uma atitude, pois ninguém é impune a insultos, reparos ou desconsiderações. É então que carregamos no tom e reincidimos, tentando ao menos abaná-lo, e que o outro, já ferido, reage de forma imprevisível.
[…]
Seria bom saber a quem, ou como, tivemos o condão de tocar, mas essa consolação ninguém a tem.
[…]
Misteriosa, mas exaltante, a noção de que ninguém nos é totalmente indiferente e de que nunca o somos verdadeiramente para os outros, ainda que sejam célebres ou poderosos. Perigosa, por outro lado, a reacção em cadeia que os nossos comportamentos provocam, acabando por condicionar, de uma forma discreta ou determinante, negativa ou positiva, o nosso comportamento ou o dos que se cruzam connosco.

E não há inocência na conduta que se adopta, nas palavras que se escolhem ou no seu sentido oculto; somos livres e responsáveis para usar desse poder como um feitiço ou uma arma, porque o seu efeito é obscuro e as responsabilidades difíceis de imputar. Mas cuidado: o efeito que buscamos pode resultar noutro bem diferente, ou até oposto ao pretendido. Não há regras. Há gestos grandes que nos deixam impassíveis e atitudes mesquinhas que mudam a nossa vida. Depende do dia, da lua, do estado de alma, do tempo, da atenção, da autoria.»

E digo-vos leitores incautos que por aqui passam neste dia solarengo de quase Inverno, digo-vos também a vocês comentadores que por vezes ferem intencionalmente quem sentem (porque não o escondo no que escrevo) estar fragilizado, as palavras que aqui deixo e as palavras que aqui me deixam afectam-me muito mais do que vocês imaginam. Há comentários que me desfazem por dentro, que me mordem por sentir a sua crueldade, frieza e até injustiça no que ali está escrito contra mim. Eu sou uma boa pessoa, como toda a gente será em querendo. Mas claro que tenho os meus dias, como todos e ao ser humana tenho as minhas falhas, tenho os meus maus momentos de descontrolo e desespero.

Um antídoto recomendado pela Rita Ferro no seu livro é o carinho mas nem sempre todos reagimos à ternura e ao carinho da melhor forma. Especialmente quando estamos demasiado devassados e nos sentimos tão violentados que nos apetece disparar sobre toda e qualquer pessoa que se meta à nossa frente. Não percebo porque somos assim. Não percebo muitas das minhas reacções. Mas enquanto for viva vou tentando melhorar. Todos os dias analiso o que fiz. Do que me posso orgulhar e do que me arrependo. Enalteço-me pelas coisas boas e castigo-me pelas más. Aprendo todos os dias, comigo e com os outros. Aprendo também com tudo o que se passa à minha volta, inclusive com aqueles que me magoam sem sequer se darem ao trabalho de me conhecerem e tentarem perceber porque me sinto por vezes mal comigo própria. Os comentários anónimos e maldosos não me fortalecem. Pelo contrário. E digo-vos que me marcam mais do que os outros. Afectam-me mais do que os outros. É um mal terrível que eu tenho em ser assim. Mas não posso deixar de ser como sou. Não porque não queira mas porque não consigo.

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