Ai as minhas cruzes!
(Post dedicado ao Sr. Animal)
Foi desta que se pôs finalmente fim às manigâncias virtuais com que me entretinha, e só deus sabe com quanta dificuldade que estas artroses dão-me cabo dos dedos e escrever uma palavrinha que seja demora-me eternidades! Pois eu, Adozinda da Silva aqui e agora me confesso! Durante mais de 60 anos tive desejos inconfessáveis de ser stripper num bar de alterne. Mesmo quando já quase não podia andar ainda sonhava com todo aquele fascínio das luzes e do espectáculo e dos corpos desnudos ali a bambolearam-se ao sabor da música. Haja quem me venha dizer que uma senhora de 84 anos não tem desejos inconfessáveis que leva logo uma mocada no trombil que eu posso estar senil e esclerosada mas ainda tenho força para levantar a minha bengala e ferrá-la num certo sítio!
Tenho desejos inconfessáveis sim e desde que me conheço! E nisso sou maior do que toda essa mocidade que por aí anda a benzer-se e a rezar aos caídos por causa do pecado e dos ciúmes e das traições. Dizia-me o meu pai Santiago que eu não era coisa boa e que saía à minha mãe que se finou na hora em que nasci. Fui concebida em pecado porque ela não era a sua legítima e toda a minha vida carreguei este fardo comigo, mesmo que ele ao fim de alguns anos lá me tenha reconhecido pois se até de perto me confundiam com ele! Por ser filha de quem sou todos os mancebos da aldeia achavam que eu era mulher fácil. Andavam sempre uns quantos à minha roda e eu morrendo-me de amores pelas estrelas de cinema da altura, elas sim, mulheres bonitas e encantadoras e imaculadas! Naqueles breves momentos em que embevecida as adorava, eu e mais todos os pacóvios da aldeia onde nasci e cresci, pois ninguém se levantava a falar do pecado, pois não! Ali só se levantavam os membros dos ditos pacóvios incluindo o do senhor padre cura que ó menos se assumia ali homem, acima de todos os outros cargos e responsabilidades (e que não eram assim tão poucos pois também ele tinha uns quantos filhos a cargo!)
O que me deu na cabeça para me casar com o meu primo Quim e vir morar para a cidade ainda estou eu para saber! Eu que sonhava em ser estrela de cinema, nem que fosse desses mais ousados em que a gente tem que se despir para ganhar uns míseros trocos mas pelo menos valemos pelo prazer que fingimos ter, amarrei-me ali a um homem, que não sendo dos piorzitos também me fez passar por muitas e nada boas. Eu sabia que ele me enganava, toda a vida o soube! Ele nem se esforçava muito por esconder achando que eu ficaria calada e muito agradecida por ter havido quem tivesse pegado em mim. Mas eu nunca me calei! Chaguei-lhe tanto o juízo que o homem morreu envenenado só de me ouvir! Enfim, em bom rigor o arsénico que lhe juntava no chá calmante que tomava ao fim da noite lá surtiu os efeitos desejados e felizmente fiquei viúva cedo!
E eu tive os meus tempos áureos sim! Tive muitos amantes nessa altura, homens que se apaixonaram perdidamente por mim! Muitos chegavam a dizer-me que fariam de mim a mulher mais feliz do mundo mas eu nunca mais quis nenhum! Deixei de acreditar no amor, acho que nunca mais acreditei nele desde esses tempos em que me apaixonava pelas estrelas de cinema. Depois da morte do Quim jurei para mim mesma que nunca mais seria enganada e preferia mil vezes ser amante a legítima! Ao menos as amantes sabem com o que contam, e só são enganadas se quiserem, se forem parvas e se deixarem levar pela conversa dos homens que as desinquietam. Se era sexo o que eles queriam de mim, era isso mesmo que eu lhes dava! É difícil agora pensarem em mim assim, mas por dentro o fogo ainda arde tal como há 40 anos atrás!
Talvez seja uma visionária, gostaria de pensar que sim! Não tenho vergonha nenhuma de assumir os desejos inconfessáveis que me assolam e que não esmorecem com o passar do tempo! Eu sou muito mulher ainda, apesar das rugas, e dos cabelos brancos e das peles que sobram onde não deviam e que escasseiam onde deviam sobrar. Vivi muito e com muita intensidade e se hoje não passo duma vizinha da frente cheia de artroses e quase transparente aos olhos dos jovens que comigo se cruzam, pois fiquem sabendo esses jovens que esta mulher que já muito viveu ainda está aqui para as curvas! E que preferia mil vezes morrer ao cabo dum gigantesco orgasmo do que ser carcomida pelos nódulos cancerígenos que em mim alastram. E que não quero ninguém a chorar no meu funeral! Quero que mandem vir umas strippers e que façam dele uma festa! Quero meninas semi-nuas a dançarem em cima do meu caixão e que com essa fascinante imagem me providenciem uma condigna despedida desta vida miserável que tão pouco tempo durou!
Foi desta que se pôs finalmente fim às manigâncias virtuais com que me entretinha, e só deus sabe com quanta dificuldade que estas artroses dão-me cabo dos dedos e escrever uma palavrinha que seja demora-me eternidades! Pois eu, Adozinda da Silva aqui e agora me confesso! Durante mais de 60 anos tive desejos inconfessáveis de ser stripper num bar de alterne. Mesmo quando já quase não podia andar ainda sonhava com todo aquele fascínio das luzes e do espectáculo e dos corpos desnudos ali a bambolearam-se ao sabor da música. Haja quem me venha dizer que uma senhora de 84 anos não tem desejos inconfessáveis que leva logo uma mocada no trombil que eu posso estar senil e esclerosada mas ainda tenho força para levantar a minha bengala e ferrá-la num certo sítio!
Tenho desejos inconfessáveis sim e desde que me conheço! E nisso sou maior do que toda essa mocidade que por aí anda a benzer-se e a rezar aos caídos por causa do pecado e dos ciúmes e das traições. Dizia-me o meu pai Santiago que eu não era coisa boa e que saía à minha mãe que se finou na hora em que nasci. Fui concebida em pecado porque ela não era a sua legítima e toda a minha vida carreguei este fardo comigo, mesmo que ele ao fim de alguns anos lá me tenha reconhecido pois se até de perto me confundiam com ele! Por ser filha de quem sou todos os mancebos da aldeia achavam que eu era mulher fácil. Andavam sempre uns quantos à minha roda e eu morrendo-me de amores pelas estrelas de cinema da altura, elas sim, mulheres bonitas e encantadoras e imaculadas! Naqueles breves momentos em que embevecida as adorava, eu e mais todos os pacóvios da aldeia onde nasci e cresci, pois ninguém se levantava a falar do pecado, pois não! Ali só se levantavam os membros dos ditos pacóvios incluindo o do senhor padre cura que ó menos se assumia ali homem, acima de todos os outros cargos e responsabilidades (e que não eram assim tão poucos pois também ele tinha uns quantos filhos a cargo!)
O que me deu na cabeça para me casar com o meu primo Quim e vir morar para a cidade ainda estou eu para saber! Eu que sonhava em ser estrela de cinema, nem que fosse desses mais ousados em que a gente tem que se despir para ganhar uns míseros trocos mas pelo menos valemos pelo prazer que fingimos ter, amarrei-me ali a um homem, que não sendo dos piorzitos também me fez passar por muitas e nada boas. Eu sabia que ele me enganava, toda a vida o soube! Ele nem se esforçava muito por esconder achando que eu ficaria calada e muito agradecida por ter havido quem tivesse pegado em mim. Mas eu nunca me calei! Chaguei-lhe tanto o juízo que o homem morreu envenenado só de me ouvir! Enfim, em bom rigor o arsénico que lhe juntava no chá calmante que tomava ao fim da noite lá surtiu os efeitos desejados e felizmente fiquei viúva cedo!
E eu tive os meus tempos áureos sim! Tive muitos amantes nessa altura, homens que se apaixonaram perdidamente por mim! Muitos chegavam a dizer-me que fariam de mim a mulher mais feliz do mundo mas eu nunca mais quis nenhum! Deixei de acreditar no amor, acho que nunca mais acreditei nele desde esses tempos em que me apaixonava pelas estrelas de cinema. Depois da morte do Quim jurei para mim mesma que nunca mais seria enganada e preferia mil vezes ser amante a legítima! Ao menos as amantes sabem com o que contam, e só são enganadas se quiserem, se forem parvas e se deixarem levar pela conversa dos homens que as desinquietam. Se era sexo o que eles queriam de mim, era isso mesmo que eu lhes dava! É difícil agora pensarem em mim assim, mas por dentro o fogo ainda arde tal como há 40 anos atrás!
Talvez seja uma visionária, gostaria de pensar que sim! Não tenho vergonha nenhuma de assumir os desejos inconfessáveis que me assolam e que não esmorecem com o passar do tempo! Eu sou muito mulher ainda, apesar das rugas, e dos cabelos brancos e das peles que sobram onde não deviam e que escasseiam onde deviam sobrar. Vivi muito e com muita intensidade e se hoje não passo duma vizinha da frente cheia de artroses e quase transparente aos olhos dos jovens que comigo se cruzam, pois fiquem sabendo esses jovens que esta mulher que já muito viveu ainda está aqui para as curvas! E que preferia mil vezes morrer ao cabo dum gigantesco orgasmo do que ser carcomida pelos nódulos cancerígenos que em mim alastram. E que não quero ninguém a chorar no meu funeral! Quero que mandem vir umas strippers e que façam dele uma festa! Quero meninas semi-nuas a dançarem em cima do meu caixão e que com essa fascinante imagem me providenciem uma condigna despedida desta vida miserável que tão pouco tempo durou!
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