4.12.06

lá fora

Encosto o ouvido ao teu coração. Pulsa tão depressa como o meu, mas os seus batimentos preenchem os intervalos entre os que soam em mim. Ora o teu som é um eco, ora o meu é as sobras.
Ruído nosso. Os passos ao lado embatem num tom grave - ponta e calcanhar quase indistintas -, logo abafado pela sola grossa. Em sincronia, os meus: articulados, com um arrastar leve sobre as pedras cortadas em ângulos quase rectos e embrulhadas numa película de água. Vozes fora de nós. Das luzes, sobem numa fita em que as palavras se perderam, cortadas em pedaços e misturadas, sem pausas nem melodia. O sempre decorativo cão que ladra da distância. Ramos agitam-se; não respondemos. É bom que nos encontremos no silêncio, penso. Descemos a rua.

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