23.5.07

e agora vou deitar o trambolho

A chuva caía há uns dez minutos e a poalha de água encaracolava-me o cabelo. Patinei e vi o pé levantar-se diante de mim. Pendi para a frente, num grotesco passo de dança, e tombei com aparato sobre o joelho da outra perna. Ali fiquei, e hoje já ninguém pára, nem mesmo em plena Rua Garrett à hora do almoço. No hábito que me ficou de criança, olhei para verificar se as calças se tinham rasgado e, tal como dantes, bastou-me constatar a integridade do tecido para ficar contente, mesmo com um joelho latejante e a sangrar. Levantei-me e deparei com um guarda-chuva florido aberto na minha direcção. A vendedora apontou a passadeira onde fui ao tapete e disse com ar misterioso:
Não imagina a quantidade de pessoas que já aí caíram. Sempre aí, sempre no branco...
Eu já sabia. Os cinzentos costumam ser fiáveis e previsíveis, mas os brancos, esses, são muito escorregadios.

referer referrer referers referrers http_referer Weblog Commenting and Trackback by HaloScan.com