10.5.07

Não é que não acreditasse no amor em si, até porque já o tinha sentido, mas não acreditava nas qualidades reformadoras que as pessoas lhe atribuiam e, sobretudo, não acreditava na sua capacidade como cimento de relações.
O amor podia aproximar as pessoas, mas o que as mantinha juntas era feito de uma massa diferente. Olhava em volta, e os exemplos abundavam: todas as relações à sua volta eram construídas sobre teias intricadas de poder e necessidade. As pessoas mantinham-se juntas porque precisavam umas das outras; porque, mesmo sem saber, viviam presas numa dualidade de poder-submissão. Às vezes era fácil perceber quem era o dominante e quem era o dominado, outras vezes o poder parecia alternar-se na relação, num sistema de checks and balances emocional. Por vezes a relação era verdadeiramente dialéctica, bastando juntar alguém com vocação para mártir, e um dominador com educação católica.
Era interessante observar as pessoas do alto desta certeza. Às vezes era divertido também. Mas os postos de observação sempre foram lugares solitários.

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