6.6.07

fumar mata

Havia, ainda, luz parada no horizonte. Acendeu o isqueiro. Amanhã deixo de fumar. Inspirou, sem sofreguidão, o princípio do último cigarro. Encostada à janela semi-aberta lembrou o absurdo de ter pensado morrer de tristeza. De joelhos em cima do banco, encostou melhor o ombro ao caixilho, para espreitar o azul aberto da noite lá em cima, a noite que finalmente chegava tão tarde. A janela deslizou na calha, o corpo dsequilibrou-se para fora. Debateu-se, agarrada ao parapeito.
No dia seguinte ninguém percebeu o cigarro entre os dedos, perto do rosto. O mais estranho era a cinza não se ter desfeito na queda, um cilindro perfeito sobre o pavimento.
Afinal morri, pensou ela a sorrir para o cigarro aceso. Mas sempre fumava, como um justo condenado, o seu último cigarro. Nenhum lhe soube tão bem.

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