Aparências
A casa dos meus avós era uma vivenda magnífica de três andares. Um verdadeiro palácio, a contrastar com o apartamento instável onde morava.
A vivenda rodeada de jardins abundantes tinha tudo para me encantar. Lustres de cristal, tapeçarias infinitas, uma cozinha imensa, duas empregadas solícitas e, claro, uma televisão a cores.
Para uma menina de sete anos, princesa recém deixada pelo pai, a casa dos meus avós era um conto de fadas.
Era ali que, nas tardes de Sábado, observava a minha avó (quase-licenciada-em-Germânicas, não fora o casamento) fazer renda de bilros, crochet e tricot com uma tranquilidade quase narcótica.
Era também ali que, aos Domingos de manhã, a seguir ao pequeno-almoço, ia cumprimentar o meu avô, médico e soberano do palácio.
Recordo-me que o quarto cheirava a cachimbo e a chinelos de pele. A minha avó fechava zelosamente a porta e eu era acolhida com um terno e sussurrado "minha querida netinha". Seguiam-se então diversas apalpações e ginásticas especiais e, por fim, menções a um pénis erecto debaixo do roupão de seda, no qual poderia tocar se quisesse, mas geralmente não queria. No final, a recompensa. Um caderno, uns rebuçados, ou simplesmente a promessa de um passeio a Belém.
E o que ainda hoje me incomoda, além do cheiro a cachimbo, é que na tontice dos meus sete anos esta parecia-me uma renda aceitável para habitar um palácio encantado.
A vivenda rodeada de jardins abundantes tinha tudo para me encantar. Lustres de cristal, tapeçarias infinitas, uma cozinha imensa, duas empregadas solícitas e, claro, uma televisão a cores.
Para uma menina de sete anos, princesa recém deixada pelo pai, a casa dos meus avós era um conto de fadas.
Era ali que, nas tardes de Sábado, observava a minha avó (quase-licenciada-em-Germânicas, não fora o casamento) fazer renda de bilros, crochet e tricot com uma tranquilidade quase narcótica.
Era também ali que, aos Domingos de manhã, a seguir ao pequeno-almoço, ia cumprimentar o meu avô, médico e soberano do palácio.
Recordo-me que o quarto cheirava a cachimbo e a chinelos de pele. A minha avó fechava zelosamente a porta e eu era acolhida com um terno e sussurrado "minha querida netinha". Seguiam-se então diversas apalpações e ginásticas especiais e, por fim, menções a um pénis erecto debaixo do roupão de seda, no qual poderia tocar se quisesse, mas geralmente não queria. No final, a recompensa. Um caderno, uns rebuçados, ou simplesmente a promessa de um passeio a Belém.
E o que ainda hoje me incomoda, além do cheiro a cachimbo, é que na tontice dos meus sete anos esta parecia-me uma renda aceitável para habitar um palácio encantado.
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