19.10.05

Era uma vez um bisavô

Eu tinha um bisavô que não cheguei a conhecer que segundo consta e reza a história trabalhou toda a vida até enriquecer. Depois achou que já tinha muita massa e dedicou-se a espatifá-la toda numa vida de deboche e devassa. Falavam dele assim como se o homem fosse muito muito mau. Porque já depois dos sessenta abandonou mulher e filhos para se deliciar com cantoras de ópera e actrizes de teatro e bailarinas, sim que este meu antepassado só se metia com senhoras finas… Também por isso num instante se foi a massa toda e ele voltou para casa com o rabinho entre as pernas.

Eu sempre tive uma certa admiração por este meu bisavô, confesso! Achava espantoso ele ter largado o conforto, a calma e a tranquilidade por uma vida desvairada e tresloucada numa idade em que se espera que as pessoas desistam de ser gente e se encostem e arrumem a um cantinho para não chatearem muito nem se meterem no caminho dos mais novos que lá vêem.

E mesmo hoje não consigo esconder a admiração por um personagem que mandou a moral e os bons costumes da época para um certo sítio e se divertiu à grande e à francesa (e literalmente porque chegou a passar temporadas com as amantes em Paris!) Gostava de ter conhecido este meu bisavô. Às vezes sinto que é sangue do dele que me corre nas veias e me faz assim espigadota e revoltada com a vida de carneirada que vejo em alguns. Que seguem o rebanho, que se deixam prender e se negam e se sacrificam e que no fundo sofrem mas também não fazem nada…

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