19.10.05

Silêncio

Casou nova, ainda por estrear. Como sempre – ou quase – acontecia nessa época, foi encornada desde o princípio. Ameaçava constantemente que o poria na rua mas, com o tempo, ganhou o receio de que ele aproveitasse a deixa para a deixar sózinha, já sem a desculpa de que ele lhe estragava a vida para poder continuar a ser uma pessoa triste.
O que lhe custava era que ele preferisse estar com elas. Se eram umas flausinas, ignorantes e pindéricas, tornava-se um desprestígio; se eram bonitas, educadas ou cultas, sentia-se inferiorizada.
Não lhe doía muito que ele fosse para a cama com elas: sempre lhe poupava o sacrifício de afastar as pernas para ele se vir dentro dela. Que nojo. Depois, quando se separaram, já velhos, porque ele já nem a reconhecia e tinha encontrado outra, mais feia, mais burra, mais nova e mais feliz, ele contou que a ela sempre tinha repugnado o sexo. E ela, que tinha sido sempre a mesma coisa: quando ela começava a gostar, já ele tinha acabado.

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