15.11.05

Adultez

Quando era pequena achava que um gajo era adulto quando tinha 18 anos e passava a poder conduzir e votar e beber. Aí é que ia ser, pensava eu, um sem fim de noites de bebedeira a saltar de discoteca em discoteca por esse mundo fora, responsabilizada pelos meus actos e sem ter de dar satisfações a ninguem. Quando lá cheguei já estava farta de discotecas, a falta de jeito não me permitiu ter carta, responsabilizada pelas coisas do costume e a ter de dar as mesmas satisfações às mesmas pessoas a quem tinha de dar nos longíquos 16 anos. Aí começei a a achar que adultos eram as pessoas de 25, livres e independentes, com casa própria e emprego estável. Quando lá cheguei, vi-me com as responsabilidades do costume acrescidas das responsabilidades de patrões e empregadores, sem casa que os euros afinal não vinham em catadupa e o nobel tarda em chegar, já com carta que quem tenta cinco vezes sempre alcança, mas ainda com a sensação de ser a mais nova da família, a miúda, a rapariga. Aí comecei a pensar que havia de ser aos 35, que por essa altura já havia de ser casada e as pessoas iam-me tratar por senhora, quem sabe se dona Isabel, havia de haver um filhito que me tirasse o fardo de mais nova e que fizesse as pessoas ver que já tinha idade para os ter, e aí sim, iria ser adulta e respeitada.
Agora a idade começa a pesar, os bons velhos tempos já se contam às decadas, e entre dores nas articulações e adormecer antes das festas chegarem ao fim, começo a ter as minhas dúvidas e a achar que nem aos 80 vou deixar de ser a menina.

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