Eu gosto das coisas que gosto.
Gosto de azul, de cerveja e de gatos. Há pessoas que gostam de vermelho, de vodka e de cães. Eu não gosto de vermelho nem de vodka nem de cães. Na verdade transcende-me um bocado que haja pessoas que consigam viver em paredes pintadas de vermelho (tão berrante), que bebam vodka (queima na garganta) e que gostem de cães (palhaços, sempre aos saltos e a ladrar). Mas, imagino eu, que para essas pessoas o vermelho seja a melhor cor do mundo, a vodka néctar dos deuses, e os cães amigos fiéis. E por isso, quando vou a casa dessas pessoas, elogio o sofá branco, bebo água da torneira e sorrio para o cão. Quando vou a casa dessas pessoas, não desato a dissertar sobre as qualidades relaxantes do azul, osseificantes da cerveja e abaixadoras de tensão arterial dos gatos. Muito menos me ponho a dizer que se vivesse na casa dessas pessoas era capaz de mutilar alguém com um fio de sediela só para ver se fazia nódoas nas paredes ou se disfarçava, e que depois punha o coto desse alguém na vodka para desinfectar porque é só para isso que a vodka serve, e que dava o apêndice mutilado ao cão para ele se calar pelo menos uma horinha.
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