3.3.07

sol com cara de lua

Dormes. Olho de perto e atenta toda a extensão do teu corpo nu. O teu corpo branco de leite. De noite é lua, estendida na cama, encolhida em crescente.
Não sabes que me levanto. Não sabes que fugi ao teu recuo de cada vez que me encaixava em ti. Nem que agora te observo com minúcia, sentindo o poder e a culpa de te espreitar cada parcela de pele exposta, de contar as pregas de carne macia. Meço as variações do teu perfume. Respirando em coro contigo inclino-me sobre a tua cabeça sem lhe tocar; sinto-te a respiração tépida. Continuo a inspirar as diferenças ao longo de todo o teu comprimento, numa deslocação muito lenta. Tenho-te agora tão físico, tão presente e agudo que me entras pelas narinas e olhos e ouvidos e – parva – levanto as mãos e quase toco o teu calor. Afloro-te com os lábios a testa, a cabeça, o ombro, a anca. Passo uma mão leve pelo teu braço. Dormes, tu.
Preenche-me a tristeza da tua distância. Pergunto-me se chegaremos um ao outro. Parto e perco-me. Rio-me contigo, que trago em mim, e choro, porque me perdi. Não te encontro no meu mapa para me afastar de ti. Nunca vou saber se me perdi só para continuar a andar às voltas, à tua volta, prolongando a ilusão de estar contigo.

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