19.10.05

Perto

Nunca quis ter um grande amor. Tudo o que é grande assusta-me, na realidade; talvez porque seja um pouco descontrolada por natureza, talvez porque a soma de dois descontroles seja exactamente o oposto, uma coisa demasiado certa para mim, ou um desperdício imenso porque não o saberia aproveitar.

Sempre senti que os espaços vazios, aqueles que não se notam quando se tem um grande amor, são aqueles de que realmente gosto. Gosto do amor aos pedaços, dividido em inúmeras sensações que não se podem ligar imediatamente. Como uma romã, em que cada bago por si tem um sabor diferente, um só bago não nos chega e queremos sempre mais, queremos todos os bagos, comidos um a um, pois só em conjunto, desfeitos lentamente na boca completam o sabor do fruto.

Para mim amor é homem, antes de mais, antes do sentimento que o envolve e, como tal, tenho um modelo ideal na cabeça, como acho que todas as pessoas devem ter um mas, acabo por encontrar aquilo que mais quero, numa forma nada idealizada. Separada, dividida, enlevada em partes.

Gosto da cor dos olhos e do olhar inquieto, gosto do cabelo sempre certo, gosto daquelas mãos e dos gestos que as compõem, gosto das orelhas grandes e de senti-las frias a passarem pelo interior dos meus braços, gosto das pernas não muito esguias e peludas que se entrelaçam nas minhas, adoro a barriga e o cheiro da pele quando me afundo nela -sempre quente, gosto do peito que se faz ao meu tamanho quando nele me aninho, gosto do tamanho dos braços e da segurança que me dão, gosto do nariz, dos lábios molhados que me sabem a doce e me sorriem sem temor, gosto daquele rabo abanicado, dentro e fora das calças. Todas as parte são perfeitas, na sua função, no meu olhar pequeno, no conforto e no desejo que me despertam.

Um grande homem, tal como um grande amor, podem apenas ser vistos ao longe e, eu, eu gosto de estar perto.

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