18.11.05

Mentir.

Só pedia licença a primeira vez. "Mãe, gostava de ir à discoteca". A resposta era um não sem apelo, daqueles que não vão lá com chantagens, choros e menções de passagem às boas notas escolares. À segunda já não ia à discoteca, ia fazer trabalhos de grupo para casa da S. (que morava a uma distância conveniente e cujo pai era a favor de discotecas). Não mentia sempre, apologista de o que não sabes não te magoa, optava o mais das vezes por não mencionar nada que me parecesse que me poderia meter em problemas: escondi namorados, bebedeiras, tabaco e sexo. Era organizada e mantinha uma lista de "trabalhos de grupo" que já tinha feito, das casas onde já tinha "ficado", e de um ou outro amigo fictício que de vez em quando inventava, uma base de dados que consultava ocasionalmente para não ser apanhada em falta. Era boa, mas já tinha um largo treino: desde pequena a esconder legumes semi-mastigados pelos cantos da casa e a gamar a moeda ocasional para comprar rebuçados.
Tinha amigos que faziam o mesmo que eu, amigos que simplesmente ignoravam ordens, amigos que faziam birra e amigos que vomitavam até os deixarem ir. A maioria de nós sabia exactamente o que tinha de fazer para conseguir o que verdadeiramente queriam (claro que tambem tinha amigos que preferiam não se chatear e obedeciam, mas como em tudo na vida era uma questão de tomar opções: havia coisas que valiam a pena e outras que não)
Agora vejo os mesmos amigos com filhos e irmãos mais novos a acreditar em tudo o que eles dizem e a achar que não fazem nada para alêm do que dizem e dá-me vontade de rir. Não sei se, se tivesse filhos, ficaria também assim (talvez o amor seja cego e o meu filhinho é muito boa pessoa e nao seria capaz de mentir à mãe), ou se pelo contrário seriam vitimas de uma mãe tirana que questionaria a veracidade de tudo Vais fazer um trabalho de grupo à casa da joana? ah, deixa-me rir, vais o caraças, é que vais!

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