24.11.05

meu amor

Meu amor, como te desejei!
Tentei não te amar, magoada pelos fracassos anteriores. Por isso, enquanto não te tinha mesmo meu, não te chamava por nomes ternos, deliberadamente. Arranjava umas designações frias, secas, mas tudo era inútil: acabavam por ser diminutivos.
Lembro-me de tudo. Como te angustiavas, no princípio, se eu não te sorria; como me acordavas aos beijinhos a dizer que eu era a mais linda do mundo; como corrias para mim e me abraçavas de um modo quase doloroso e eu ficava quieta, a cheirar o teu pescoço quente e a sentir a batida acelerada do teu coração a furar-me o peito.
Sempre me disseste frases curtas de um enorme tamanho. O modo como descreves o mundo faz com que tudo pareça mais bonito e puro, mesmo que já contenhas em ti a noção da precaridade das coisas, que vem com a perda de alguma inocência.
Vejo-te, faz hoje anos, dependurado dos braços de um enfermeiro, todo verde, em sofrimento, a voar pela primeira vez para longe de mim. Voltaste passadas umas horas e eu já tinha tantas saudades tuas.
Nessa altura ficavas encostado a mim, serenado com o leite que sorvias do meu seio, embalado na minha voz, apaziguado pelo calor da minha pele. Agora, passas um braço enorme por cima dos meus ombros, enquanto me explicas qualquer coisa que eu não perceba; foges de mim a querer que eu te persiga para mais um (como lhes chamas) round de carinho. Mas do que tu gostas mesmo, mesmo, é de me mostrar como já consegues, perfeitamente, transportar a tua mãe às cavalitas.
Adoro-te, meu amor. Muitos parabéns.

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