30.4.06
29.4.06
cair: de(in)clinações
Tinha nove anos e as férias do Verão. Brincava na rua com os primos dos disparates, noite fresca de Setembro. Um deles sabia por que razão os velhos bebiam bagaço na taberna em frente - aquilo aquecia – e teve uma ideia.
Cada um de nós bebeu um bagaço. O calor que queimava, a tontura, agradaram-me. Bebi mais dois.
Pouco depois jogávamos à barra-do-lenço no largo passeio contíguo. Ao grito de fogo! acudimos todos. De lenço na mão corria desenfreada. O chão, de súbito, começou a deslocar-se num movimento ascendente, era um plano pivotante cujo eixo estava mesmo à frente dos meus pés. Lembro-me bem de o ver subir, em direcção a mim. Firme e estóica, eu, aguentava o embate de pé.
Corro para apanhar o combóio em andamento. Lá dentro, os meus amigos adolescentes mantêm a porta aberta, com os pés, e puxam-me pelos braços no momento em que salto. Caio entre a carruagem e a plataforma, suspensa de cima, o chão dos outros a magoar-me a cintura.
Estranha forma de viajar. Tenho uma nova visão do mundo e dos caminhos de ferro da CP antes de fechar os olhos e preparar-me para morrer.
Ontem estive sentada numa cadeira a contemplar o horizonte. A cadeira é daquelas com estrutura em tubo de aço, assento, espaldar e braços de couro. Uma costura lateral do assento cedeu sem aviso prévio. A queda foi rápida, mas discreta. O horizonte desapareceu. À minha frente, céu azul. Ligeiramente nublado.
Cada um de nós bebeu um bagaço. O calor que queimava, a tontura, agradaram-me. Bebi mais dois.
Pouco depois jogávamos à barra-do-lenço no largo passeio contíguo. Ao grito de fogo! acudimos todos. De lenço na mão corria desenfreada. O chão, de súbito, começou a deslocar-se num movimento ascendente, era um plano pivotante cujo eixo estava mesmo à frente dos meus pés. Lembro-me bem de o ver subir, em direcção a mim. Firme e estóica, eu, aguentava o embate de pé.
Corro para apanhar o combóio em andamento. Lá dentro, os meus amigos adolescentes mantêm a porta aberta, com os pés, e puxam-me pelos braços no momento em que salto. Caio entre a carruagem e a plataforma, suspensa de cima, o chão dos outros a magoar-me a cintura.
Estranha forma de viajar. Tenho uma nova visão do mundo e dos caminhos de ferro da CP antes de fechar os olhos e preparar-me para morrer.
Ontem estive sentada numa cadeira a contemplar o horizonte. A cadeira é daquelas com estrutura em tubo de aço, assento, espaldar e braços de couro. Uma costura lateral do assento cedeu sem aviso prévio. A queda foi rápida, mas discreta. O horizonte desapareceu. À minha frente, céu azul. Ligeiramente nublado.
28.4.06
27.4.06
Olha a tecla do silêncio!
- …e depois vê lá tu, achei que era uma ideia do melhor que havia: quando saires para um café, se não quiseres dar muita bandeira, à entrada metes a carteira dentro de uma daquelas pastas pretas dos dossiers…
- Que ideia excelente!
- Também achei e claro que fiz. Voltei da rua e zuca, carteira dentro da pastinha e lá ia eu com um ar atarefadíssimo…
- E então, qual é o problema?
- E então, vou eu a passar à porta do administrador e ele chama-me…
- E…?
- E eu ali com a pasta na mão a falar com ele e a pasta começa a tocar!
- A tocar?
- Sim! E eu sem poder atender!
- Ai!
- Pois foi. Lá me desculpei com o telemóvel no bolso das calças e fugi antes que ele desse conta que estava de saia…
- Que ideia excelente!
- Também achei e claro que fiz. Voltei da rua e zuca, carteira dentro da pastinha e lá ia eu com um ar atarefadíssimo…
- E então, qual é o problema?
- E então, vou eu a passar à porta do administrador e ele chama-me…
- E…?
- E eu ali com a pasta na mão a falar com ele e a pasta começa a tocar!
- A tocar?
- Sim! E eu sem poder atender!
- Ai!
- Pois foi. Lá me desculpei com o telemóvel no bolso das calças e fugi antes que ele desse conta que estava de saia…
Deixar de fumar
Dia O de zero.
Sete horas com o pensinho no braço a fazer comichão.
Sete horas sem fumar, sete. Já nem vejo nada.Ou melhor, vejo o frigorífico. Metade de um queijo de ovelha, sumo de morango, um restinho de miniaturas de amêndoa, uma lata de amendoins, silêncio, devagarinho, fechar as portas, guardar o isqueiro, lavar o cinzeiro.
É surpresa.
Amanhã, vai ser lindo, vai.
Uma gaita.
Sete horas com o pensinho no braço a fazer comichão.
Sete horas sem fumar, sete. Já nem vejo nada.Ou melhor, vejo o frigorífico. Metade de um queijo de ovelha, sumo de morango, um restinho de miniaturas de amêndoa, uma lata de amendoins, silêncio, devagarinho, fechar as portas, guardar o isqueiro, lavar o cinzeiro.
É surpresa.
Amanhã, vai ser lindo, vai.
Uma gaita.
25.4.06
24.4.06
22.4.06
SOCA no Palácio Galveias
Ontem, no Palácio Galveias, a nossa SOCA esteve brilhantemente representada, tendo o comportamento das sócias presentes atingido o seu máximo exponente de anonimato e discrição.
Senão, vejamos:
As sócias que chegaram a horas NÃO andaram aos abraços umas às outras na entrada;
- as sócias que chegaram a horas NÃO se sentaram todas juntas em fila, NEM estavam todas aos segredinhos e às gargalhadas, NEM andaram a mandar sms às atrasadas enquanto aquilo começava;
- as sócias que não chegaram a horas NÃO entraram aos sorrisos e adeuses à chefa, NEM começaram aos sorrisos e adeuses às que tinham chegado a horas, NEM as já sentadas responderam com sorrisos, adeuses e sinais de vem para aqui que ainda tens lugar;
- as sócias sentadas NÃO estiveram a mandar recados à chefa através da técnica falar só a mexer os lábios, NEM apontaram para algumas outras raparigas presentes com o dedo esticado e a cabeça a perguntar e aquela também é sócia?, NEM a chefa lhes respondeu com a mão na orelha que não oiço não percebo!
- no final, todas as sócias NÃO se juntaram a um lado da sala com mais abraços, gargalhadas e gritos de não me digas que és tu a não sei quantas!, ah tu é que és a tal!, NEM pessoas presentes perguntaram quem é aquele mulherio todo?, NEM a chefa se chegou ao pé delas também aos abraços histéricos e aos obrigadas e aos ainda bem que vieste.
- já no tempo do fumar um cigarro, as sócias NÃO se puseram todas a dizer mal de tudo quanto era mulherio ausente e a lamentar que as outras sócias não estivessem presentes, NEM a divulgar descaradamente os alias que usam na nossa SOCA.
- Finalmente, as sócias, depois do acontecimento, NÃO mostraram fotografias dos filhos, NÃO contrataram sócias novas e NÃO apanharam piela nenhuma.
Penso que teremos todas mantido a nossa SOCA absolutamente intacta no seu anonimato, ninguém deu por nós e estamos safas por esta.
Um grande bem haja, minhas queridas amigas. :)
Senão, vejamos:
As sócias que chegaram a horas NÃO andaram aos abraços umas às outras na entrada;
- as sócias que chegaram a horas NÃO se sentaram todas juntas em fila, NEM estavam todas aos segredinhos e às gargalhadas, NEM andaram a mandar sms às atrasadas enquanto aquilo começava;
- as sócias que não chegaram a horas NÃO entraram aos sorrisos e adeuses à chefa, NEM começaram aos sorrisos e adeuses às que tinham chegado a horas, NEM as já sentadas responderam com sorrisos, adeuses e sinais de vem para aqui que ainda tens lugar;
- as sócias sentadas NÃO estiveram a mandar recados à chefa através da técnica falar só a mexer os lábios, NEM apontaram para algumas outras raparigas presentes com o dedo esticado e a cabeça a perguntar e aquela também é sócia?, NEM a chefa lhes respondeu com a mão na orelha que não oiço não percebo!
- no final, todas as sócias NÃO se juntaram a um lado da sala com mais abraços, gargalhadas e gritos de não me digas que és tu a não sei quantas!, ah tu é que és a tal!, NEM pessoas presentes perguntaram quem é aquele mulherio todo?, NEM a chefa se chegou ao pé delas também aos abraços histéricos e aos obrigadas e aos ainda bem que vieste.
- já no tempo do fumar um cigarro, as sócias NÃO se puseram todas a dizer mal de tudo quanto era mulherio ausente e a lamentar que as outras sócias não estivessem presentes, NEM a divulgar descaradamente os alias que usam na nossa SOCA.
- Finalmente, as sócias, depois do acontecimento, NÃO mostraram fotografias dos filhos, NÃO contrataram sócias novas e NÃO apanharam piela nenhuma.
Penso que teremos todas mantido a nossa SOCA absolutamente intacta no seu anonimato, ninguém deu por nós e estamos safas por esta.
Um grande bem haja, minhas queridas amigas. :)
20.4.06
19.4.06
A vossa atenção por favor, para o Dia Mundial do Livro e do Direito de Autor
A Presidente do Conselho de Administração desta sociedade vai participar numa mesa redonda no
Palácio Galveias em Lisboa , esta SEXTA-FEIRA, às 18h30, sobre o tema : Weblogs: o autor/editor .
Fica aqui o convite/intimação para quem quiser ir até à Biblioteca Municipal Central.- Campo Pequeno. A entrada é livre.
O elenco é do melhor:
- Francisco José Viegas , Origem das Espécies
- Catarina Campos do 100 nada , Devagares , do babyblog O meu filho e eu e da Sociedade Anónima.
- João Villalobos, do blog Prazeres Minúsculos
- Rui Branco, do blog Adufe
- Ana Cláudia Vicente, do Quatro Caminhos e do Amigo do Povo
A Isabel do MissPearls vai moderar este Mega Evento tão mediático como a inauguração do novo casino.
Temas em discussão:
- A dicotomia autor/editor e a questão da validação dos conteúdos;
- Novos caminhos da informação e de debate;
- O uso integrado das tecnologias ao serviço da criatividade;
- O uso de blogues na educação e no desenvolvimento do gosto pela escrita.
Tomo a liberdade para, em nome da Rita, da cecília r., da Alice, da luisa c., da Mariana Martins, da Beatriz, da Isabel R., da louca da casa, da Ana, da Teresa M., da china blue, da Vera M. e da Santinha da Casa, desejar o MAIOR SUCESSO à nossa amiga e ao SUPER EVENTO.
E claro, se virem uma moças com cartazes e a bater palmas barulhentas, já sabem... somos nós.
Palácio Galveias em Lisboa , esta SEXTA-FEIRA, às 18h30, sobre o tema : Weblogs: o autor/editor .
Fica aqui o convite/intimação para quem quiser ir até à Biblioteca Municipal Central.- Campo Pequeno. A entrada é livre.
O elenco é do melhor:
- Francisco José Viegas , Origem das Espécies
- Catarina Campos do 100 nada , Devagares , do babyblog O meu filho e eu e da Sociedade Anónima.
- João Villalobos, do blog Prazeres Minúsculos
- Rui Branco, do blog Adufe
- Ana Cláudia Vicente, do Quatro Caminhos e do Amigo do Povo
A Isabel do MissPearls vai moderar este Mega Evento tão mediático como a inauguração do novo casino.
Temas em discussão:
- A dicotomia autor/editor e a questão da validação dos conteúdos;
- Novos caminhos da informação e de debate;
- O uso integrado das tecnologias ao serviço da criatividade;
- O uso de blogues na educação e no desenvolvimento do gosto pela escrita.
Tomo a liberdade para, em nome da Rita, da cecília r., da Alice, da luisa c., da Mariana Martins, da Beatriz, da Isabel R., da louca da casa, da Ana, da Teresa M., da china blue, da Vera M. e da Santinha da Casa, desejar o MAIOR SUCESSO à nossa amiga e ao SUPER EVENTO.
E claro, se virem uma moças com cartazes e a bater palmas barulhentas, já sabem... somos nós.
Morremos aos poucos
Morremos. Um bocadinho de cada vez, os dois ao mesmo tempo, vamos morrendo. Morremos em cada frase que forçamos inócua, em cada espaço vazio onde apenas sobrevive a respiração, em cada silêncio quebrado apenas pela vontade que o outro diga mais, alguma coisa, disseste alguma coisa? não. pareceu-me. mas não disse, estava só a pensar. em quê? em nada. ah. Qualquer coisa que seja mais do que coisa inócua, mas que não seja coisa amarga, qualquer coisa que quebre o gelo mas não doa, vamos morrendo mas conversamos sobre o tempo e a chuva docemente, para não perturbar o momento, já não é em bicos dos pés, é pairando mesmo; como se pairando sobre as coisas as torne menos
silenciosas
menos morte adiada.
A distância é assim, alimenta-se sozinha, não precisa de mais nada senão de existir para crescer. E cresce, independentemente da vontade de quem está em cada ponta. A distância só se vence se combatida ferozmente; e todos os verbos esperar e querer e desejar e ter esperança e dar e entregar e conversar docemente sobre temas inócuos e até o verbo amar, para a distância não passam de mais sustento.
(jan 06)
silenciosas
menos morte adiada.
A distância é assim, alimenta-se sozinha, não precisa de mais nada senão de existir para crescer. E cresce, independentemente da vontade de quem está em cada ponta. A distância só se vence se combatida ferozmente; e todos os verbos esperar e querer e desejar e ter esperança e dar e entregar e conversar docemente sobre temas inócuos e até o verbo amar, para a distância não passam de mais sustento.
(jan 06)
18.4.06
A carne é fraca
Desculpem esta vil soberba e vã imodéstia, mas o post Tempos Amenos saiu hoje no DESTAK, esse jornal que vai tornar-se, a partir de hoje, a minha publicação de referência.
13.4.06
12.4.06
Tempos amenos
Uma pessoa leva uma vida de cão, sempre a pensar nos almoços, nos jantares, nas contas, no frigorífico avariado, nos vidros sujos, e muitas vezes nem tem olhos para ver os outros. Eu gosto de estar à janela, ouvir as vozes cá em baixo, imaginar aquelas vidas, maldizer o palerma que humilha mulher, sossegar a adolescente inquieta, ajudar a velhinha a subir, criticar a esposa distante e fazer uma carícia no cabelo das crianças.
Gosto de estar à janela com o homem que amo porque as nossas vozes não se ouvem para dentro nem se escutam em baixo. Mas o que gosto mais, é estar perto dele, com os ombros encostados e os dois a observar as mesmas coisas.Temos o mesmo norte, o mesmo sul, as mesmas árvores a oriente e os mesmos vultos a ocidente.
Sussuramos as palavras para o vento as levar de mansinho e ali ficamos até as vozes de dentro chamarem e as de fora nos cansarem.
Também por isso gosto da Primavera. Se nos quiserem ver, olhem para cima. Lá estamos de novo os dois.
11.4.06
8.4.06
conclusões retiradas da tertúlia intelectual de ontem
Generalizando:
As mulheres que não têm filhos e querem tê-los procuram um homem que as deixe tomar conta dele.
As mulheres casadas e com filhos querem um homem que tome conta delas.
As mulheres separadas e com filhos aceitam um homem que as deixe tomar conta de si mesmas.
As mulheres que não têm filhos e querem tê-los procuram um homem que as deixe tomar conta dele.
As mulheres casadas e com filhos querem um homem que tome conta delas.
As mulheres separadas e com filhos aceitam um homem que as deixe tomar conta de si mesmas.
Sózinha em casa
Oito horas de sono.
A tarde na sala vazia, janelas a despejar sol pelo chão. Consolo bulímico num pacote de batalha palha titi. B52’s (altinho) e pés descaços a girar pela casa fora.
I’m back from Mesopotamia.
A tarde na sala vazia, janelas a despejar sol pelo chão. Consolo bulímico num pacote de batalha palha titi. B52’s (altinho) e pés descaços a girar pela casa fora.
I’m back from Mesopotamia.
4.4.06
Os nossos cromíssimos de estimação
Título e post dedicado e em especial por éxistêééneéseó.
Ah que soidades tinha eu das minhas amigas e sus admiradores! :DD
Ah que soidades tinha eu das minhas amigas e sus admiradores! :DD
Uma altura deixei a carteira no banco da frente no meio do fim do mundo. Partiram o vidro e levaram-na. Encontrei-a dois campos de milho abaixo, com os euros a menos. Fui à cidade mais próxima tratar de tirar os cheques da lista negra. Perguntei a uns senhores da GNR se podia deixar o carro estacionado no parque do posto, já que não havia vidro para fechar. Disseram que sim e fui à minha vida. Quando voltei tinha um monte de senhores policias à volta do meu carro, a ver o carro sem vidro e o banco da frente cheio de estilhaços e a indagar-se quem teria sido o ladrão com a lata para ter feito semelhante serviço no parque do posto.
2.4.06
piloto automático (parábola instantânea foleira para o domingo - o dos tristes)
Uma das características de muitos que têm tracção às quatro é deixar uma terceira em ponto morto na estrada secundária. Continuam a tentar debalde subir a íngreme rua principal em segunda, com a primeira do costume. Quando vão abaixo constatam que já não têm direcção assistida.