31.3.07

branco

Dias depois do colapso tive uma iluminação. Não daquelas radiantes, de epifania. Nem radiosa, com laivos românticos e rosados, como a luz poente que dissimula e ilude. Foi uma luz implacável, uma manhã: os recortes despojados e incisivos do branco.

azuis

O azul está em tudo. Tudo. Basta ser, para uma ontologia do azul.

cinzentos

Nunca são brancos - nem pretos. Têm medo. Conseguem esquivar-se às trevas. Furtam-se ao risco. Não entram dentro da luz.

30.3.07

A Vida Sexual de Uma Pessoa Atarefada

Um gajo ocorre-se-lhe uma dúvida:
"o plural de gel é géis ou gels?"
E decide esclarecer essa dúvida por vias de ver qual das duas palavras dá mais hits no google.
E descobre que aparentemente há uma grande variedade de géis para sexo oral e sexo anal.

E a isto se resume "A Vida Sexual de uma Pessoa Atarefada"

Etiquetas:

28.3.07

a saudade sozinha

A saudade sozinha, a que morre solteira, a que não tem volta a dar e que volta como um boomerang, calada que nem um rato, que nunca aterra e não pára para se reabastecer… é tramada. Porque nos rodeia as virilhas e as pontas espigadas do cabelo e toma conta de todas as nossas extremidades e contornos. É como amar uma mesa e querermos que ela venha para nós com as suas perninhas de madeira, a correr, a correr, e se nos aterre no colo a dar-nos beijinhos, como se estivesse viva. A saudade órfã é como amar uma mesa, o que é, ao mesmo tempo, ridículo e triste. Mas também tem o seu quê de irónico, capaz de puxar sorrisos. E é acharmos que, com a força do pensamento, aquele navio grande que mais parece um cruzeiro, vai entrar terra dentro como um anfíbio e trazer-nos notícias boas, uma cintura que abraçar, uma nuca para onde respirar. É como o envio de uma carta ou de um telegrama, algo que supostamente nos aproxime do outro mas que, como caiu em desuso, nem vale a pena o esforço: é sempre longe, muito longe, nem o eco se nos é devolvido. A saudade é um comboio numa linha sem retorno, um expresso do oriente e do ocidente que dá ao volta ao mundo e me dá a volta a mim, mas nunca te encontra, nunca sabe onde estás, jamais te alcança. É um fingir que te arrasto pelos colarinhos até à ponta do meu nariz fungoso, a cada vez que me picas lá de longe o coração e me fazes dobrar-me sobre mim mesma, enquanto grito para dentro e só para mim, Vem, porra!.

Aquelas coisas que deviam ensinar nas escolas de línguas...

Se há uma constante em todas as apresentações em inglês para uma audiência multilíngue, é que há-de haver sempre um desgraçado que responde ao obrigatório
Are there any questions?
com um infeliz
I have a big one.
Ora, eu não tenho culpa se um
Aren’t you lucky!
me escapa.
A sério, a língua inglesa é muito traiçoeira, e em vez de lerem trinta mil textos sobre a revolução industrial, melhor seria que os professores investissem num crash course sobre como evitar gaffes.
Deixo aqui esta humilde sugestão, que, a ser seguida, me facilitaria a vida. Obrigada.

27.3.07

Eu tinha um segredo. Era sobre ti. Ou melhor, era sobre nós. Era toda a nossa história concentrada a conta gotas e guardada num frasco de vidro bem fechado, preservado da luz e do ar para não perder o cheiro a nostalgia.
Embora o meu segredo devesse ter evaporado, como todos os segredos - o prazer de um segredo é partilhá-lo -, investi-me em guardiã improvável e nunca o deixei escapar.
Ao princípio, confesso, nem foi por querer, ou por virtude que a modéstia me impeça de revelar - tu sabes que disso tenho pouco. Foi simplesmente porque as palavras para o contar me faltavam, ou demasiado pobres ou demasiado cheias de significado - tu sabes como pode ser assustadora, esta voluptuosidade das palavras. Quando me voltaram as palavras faltou-me a coragem - já carregava culpa suficiente para me arriscar a aumentar o fardo com a reacção de um confidente. E quando o tempo tornou até isto absoleto, continuei a guardá-lo, ao segredo, porque foi a única maneira que encontrei de guardar um bocadinho do que nos aconteceu. Percebes, é que eu quase esqueci o teu rosto – vi uma fotografia tua no outro dia e custou-me a reconhecer-te. As tuas cartas não sei onde estão (perdidas em algum dos muitos baús que fui deixando para trás). A tua voz soou-me estranha da última vez que a ouvi. E a tua presença, essa na verdade nunca a tive.
Vendo bem as coisas, tudo o que tivemos foi o que sentimos, e eu não estava preparada para o perder por banalização. Quando o contasse a alguém, as coisas seriam postas em perspectiva, depois de verbalizadas mostrar-se-iam ridículas, reduzidas à sua própria importância no ‘grande esquema das coisas’, que foi afinal nenhuma. E eu não queria perder-te. Não, nem era isso. Eu não me queria perder, o eu que fui contigo e nunca se apresentou a mais ninguém. Não era um eu perfeito, eu sei, escusas de me dizer. Mas era o meu eu mais vulnerável, o único que não teve medo nem vergonha – nem forma, já que falamos nisso. Nem nunca teve hipótese... - de mostrar a outra pessoa aquilo que normalmente tenta esconder.
Foi por isso que o guardei, o segredo. Uma espécie de nostalgia de um passado todo em potência.
E foi por isso que me custou saber que tu o tinhas contado. Não me interpretes mal, não é que eu quisesse que tu tivesses ficado preso no passado. Nem fiquei ofendida, nem melindrada. É perfeitamente normal e até saudável que tu o tenhas feito - eu é que tenho a mania das nostalgias. Aliás, suponho que se calhar até te devia agradecer. Até devia...
Mas não o fiz quando o enterrei (ao segredo) no outro dia ao almoço: abri o frasco, e deixei escorrer as gotas. E até me ri, de mim, de nós, e da banalidade da história – tal e qual como tinha calculado. E nem te telefonei depois, nem te escrevi, nem penso que o vá fazer.
Ficamos assim, pode ser? Tomas isto como um agradecimento – meio arrevezado, eu sei -, e deixamos o passado em paz, de uma vez por todas.

Momento "oh sod it!"

You're only alive until you're dead!
É de facto a única coisa que me apraz dizer em relação ao filme "The Queen".

Ela é de facto magnífica (a actriz não a rainha entenda-se...)
Ui e uma bomba ali plantada nos jardins de Balmoral agora era giro não era??

Etiquetas:

26.3.07

banho de pó

Ajeito as penas com o bico. Hum, que lindas penas eu tenho. Saracoteio-me e abro a cauda em leque. Ah, que maravilha da criação. Arrebito a crista e dou-lhe uns apertões, para ficar mais corada. Oh, que viçosa sou. Dou uns pulinhos, cacarejo, faço de conta que vôo. Bocboc... bocboc... Qualquer dia salto aquela cerca. Ah pois, temos a tradição de prever o futuro... Só tenho que esquecer-me de que sou um espanador.

25.3.07

Momento "Foda-se pá!"

Ainda não fiz nada e já tou uma hora atrasada!!

Etiquetas:

24.3.07

inversão de marcha

Água esverdeada, musgo, cheiro a eucaliptos, sombras diluídas no rumorejar da corrente. A água vai dar ao mar, ou é o mar que vai dar à água? Caminhei à beira dela, agora a salgada e em plena luz, afastada de mim pela areia, pela rocha, onde o lodo substitui o musgo. Estava toda em baixo e em cima, líquida ou condensada: espessa. Por isso o ar limpo permitia ver bem longe, até ao Mar da Palha, posso jurá-lo - mesmo se o ângulo era impossível. Fumo; castanhas, na Primavera?! Cruzei-me numa ponta, ao fim do caminho, depois na outra, à penúltima castanha, com o primeiro rapaz a quem dei beijos na boca. Perguntou-me começas deste lado? Eu começo do outro. Nenhum de nós parou.

23.3.07

más notícias

Enquanto a Arlindinha fazia a elipse da elapse dos seus eclipses, esperava-me o yang (ou será o yin...? Anonymous!! Já aqui!) da semana. Que se flixe.
Arlinda, se quiseres dou-te o resto dos morangos. E, para te provar a minha imensa preocupação com os prazeres da tua carne, dou-te uma tacinha de cereais, também.

Etiquetas: ,

Ora nem mais!

É linda cilinha, estavas tu a deleitar-te com os cereais e os morangos, dos desidratados e dos verdadeiros, e eu aqui a conferenciar com os meus botanitos e a contar quantos dias se teriam elapsado desde que tive o meu último orgasmo…

Será por isso que a vida me corre tão mal ultimamente? Será que como não me entrego aos prazeres da carne como antigamente, já nem sinto que sou gente? Foda-se! Olha a primavera e os passarinhos a fazerem os ninhos, que bonito, trá-lá-lá-lá-lá…

Etiquetas: ,

boas notícias

Depois, durmo o sono dos justos. Acordo às 6.22 e ainda às 7.17, olhos muito abertos, como se me tivessem chamado com urgência. Um bónus, pois assim posso fazer uma das coisas de que mais gosto: espreguiçar-me, virar-me para o outro lado e adormecer outra vez.
Celebro ao pequeno-almoço. Como a primavera numa taça de cereais com frutos vermelhos desidratados e morangos verdadeiros, rubros e perfumados. Todos os frutos vermelhos sabem a interditos. Algum pecado recomenda-se.

22.3.07

que nao se diga que a graxa verde nao resulta

A isabelinha está a tentar transformar 100 paginas de "interacções" e "efeitos" e "influências" em 160-200 paginas. A isabelinha nos intervalos está a tentar arranjar quem lhe dê um salário em troca dos seus serviços e conhecimentos (trabalho não é que falte, salario é que não há quem lho dê), e está ao mesmo tempo a tratar dumas burocracias. Entre umas coisas e outras não sobra muito tempo para escritos subversivos e que tais, o que é uma pena, até porque nem fazia ideia que lhe tinham saído da pena escritos desses.
A isabelinha manda dizer que está bastante farta da vidinha de merda que leva, mas que a bem dizer não se pode queixar porque tanto ela como os seus têm saúde e estão bem o que, tal como a isabelinha recentemente se apercebeu, é uma coisa que não dura sempre.
A isabelinha manda jinhos a todas e keep up the good work e assim.

PS: já nao é inverno e ja nao ha saldos :)

Etiquetas:

graxa verde

Minha Isabelinha Erre, onde andas tu? Que saudades dos teus posts, os acutilantes, os subversivos, os de um gajo se atirar para o chão a chorar de riso?
Anda, até arranjei graxa verde só para te convencer...

(agora vou ver o que arranjo para tentar convencer as outras...)

Etiquetas: , ,

20.3.07

foi / fui

Olho-te, com desconfiança. Conto um, dois três: vou dizer que te quero. Perco algumas das tuas palavras (que dizias?). Sim, já te apanhei. Insistes que o meu declarado amor não te ama. Só a mim. Não sei porque estás aqui comigo. Queres realizar-me? Então fode-me. Ou deixa-me passar as pontas dos dedos por toda a tua pele muito lisa. E depois a língua. Dá-me o teu cheiro a inspirar até ao fim, quando só sobrar sobre ti o sabor da minha saliva.
Inspiras-me. Dirias que a inspiração será minha, sempre minha, não tua. Nada fará por ti (pois não). Sei como ser musa não chega. Falas, ainda. Penso que as tuas palavras me mostram um homem bom. O que é a bondade? Intuo. Não sei dizer-te o que somos; calo-me. Estou atenta e apanho sinais que junto nos bolsos, sem taxonomias. Brinco com os teus dedos enquanto te recolho à mão-cheia. Falas e ouço. As tuas palavras sábias misturam-se com os movimentos dos teus lábios. Ouço um sussurro inaudível: quero beijar-te. Atento ao que dizes, mas deslocas o corpo e cheiro-te - quero-te.
A dúvida ganha expressão física, tão intensa como o desejo. A tua voz grave de veludo escuro desmaia sem eu querer, confunde-se com a noite. E eu queria a tua voz em mim, penso: nunca.

19.3.07

equilíbrio de maniqueísmos

Todo o assunto comporta dicotomia. Dependemos sempre do nosso idiossincrático ponto de vista. Hoje, por exemplo, podia ficar de trombas e rosnar veio-me o período. Mas também posso esquivar-me airosamente e ser optimista:
Hoje começou um ciclo de fertilidade.

18.3.07

Faz de conta

Fazemos de conta que não se passa nada de tal forma que, um dia destes, corremos o risco nos perguntarmos se e o quê que alguma vez se passou.

Etiquetas:

17.3.07

Illegal



Para todos aqueles que um dia desiludiram a mulher dos seus sonhos e para todas aquelas que se sentiram desapontadas e maltratadas por aqueles a quem confiaram a sua vida e os seus sonhos.

It should be illegal to deceive a woman's heart...

Etiquetas:

querido

Tenho dito poucas vezes o teu nome. Quero fazer o teu nome com todas as minhas vozes e daquelas que ainda não conheço em mim. Páro e digo-o para dentro. Aqui, olho a tua boca e o teu nome soa doce, terminação em sorriso. Agora perco-me um compasso e esperas o nome em voz baixa, mais que um sussuro, de um rosto grave e próximo do teu. Repito e parece que soletro, mas não: poisa vagaroso em todas as letras. Com a boca encostada à tua, ouves o teu nome por saberes que estás sempre à flor dos meus lábios. Tens cócegas no pescoço quando contam a primeira sílaba. Afundo-me e o teu nome completa-se, num som que se fecha sobre ti. Volto-me para ti e chamo-te.

16.3.07

Eu, Arlinda, me confesso!



A culpa é minha, toda minha e só minha!
Quis agradar à Cilinha, se calhar tentei de mais…

Agora olha… ela chateou-se comigo e pumba, já não vai haver almoço! :-(

É assim, a gente entusiasma-se e depois quer dar passos maiores que as pernas.
Creio que necessito urgentemente dum desses cursos de marketing e que seja na área da estratégia para ver se me estruturam aqui o fogo na venta!

Etiquetas:

15.3.07

recebido de uma amiga

A - CURSO DE MARKETING LÉSBICO:

1) Estás numa festa e vês uma mulher muito fascinante.
Chegas perto dela e dizes-lhe:
- Sou um fenómeno na cama.
Isto é Marketing Directo.

2) Estás numa festa e vês uma mulher muito fascinante.
Uma das tuas amigas chega perto dela e diz-lhe:
- Aquela mulher é um fenómeno na cama.
Isto é Publicidade.

3) Estás numa festa e vês uma mulher muito fascinante.
Pedes-lhe o número de telemóvel.
No dia seguinte ligas-lhe e dizes:
- Sou um fenómeno na cama.
Isto é Telemarketing.

4) Estás numa festa e vês uma mulher muito fascinante.
Tu reconheces esta mulher. Chegas mais perto dela, refrescas a sua memória e dizes-lhe:
- Lembras-te como sou fantástica na cama?
Isto é Customer Relationship Management.

5) Estás numa festa e vês uma mulher muito fascinante.
Levantas-te, dás um jeito na roupa, aproximas-te dela e ofereces-lhe um copo.
Dizes-lhe como é bom o seu perfume, dás-lhe os parabéns pela sua boa
aparência. Ofereces-lhe um cigarro e dizes-lhe:
- Sou um fenómeno na cama.
Isto é Public Relations.

6) Estás numa festa e vês uma mulher muito fascinante.
Ela chega perto de ti e diz-te:
- Ouvi por aí que és um fenómeno na cama.
Isto é Branding, o Poder da Marca.

7) Estás numa festa e vês uma mulher muito fascinante.
Chegas perto dela e dizes-lhe:
- Sou um fenómeno na cama, mostrando-lhe um seio.
Isto é Merchandising.

B - CURSO DE MARKETING SÓ PARA HOMENS:

1) Estás numa festa e vês uma gaja toda boa.
Chegas perto dela e dizes-lhe:
- Sou um fenómeno na cama e resisto toda a noite sem parar.

Isto é Publicidade Enganosa e punível por lei.

14.3.07

Stop the press!!!



A CILINHA DISSE QUE IA ALMOÇAR COMIGO!!!
A CILINHA DISSE QUE IA ALMOÇAR COMIGO!!!
A CILINHA DISSE QUE IA ALMOÇAR COMIGO!!!
A CILINHA DISSE QUE IA ALMOÇAR COMIGO!!!

Yuuuuupppiiiiiiiiiiii!!!!!

Etiquetas: ,

Daifuku




Ó Cilinha tu desculpa-me lá mulher mas a gente anda um bocado desorientada que é mesmo assim e mai nada. Eu acho que é da falta de sexo, claramente! E como mai ninguém se chega à frente eu cá chego-me e digo-te que há pois que há alimentos que dão uma tusa danada. Quem diria que os japoneses, aqueles malandrecos, inventaram um doce que é uma mama duma mulher?? E como aqui ninguém fala japonês eu cá digo que daifuku só pode ser mesmo isso, tá mesmo na ponta da língua, é fonético e tudo! Dai-fo-guuu e a gente dá, ó pois se dá!

A experiência é assim, convém estar mentalmente e fisicamente preparada para a coisa claro, e pega-se no daifuku com jeitinho, dá-se umas lambidelas para lhe tomar o gosto doooceeee, muito dooocceee, e depois dá-se umas mordidinhas assim bem languidamente para deixar o seu interior adocicado escorrer para dentro da nossa boca. Dizem que é uma experiência muito sensual e que nos desperta os sentidos todos e que se imaginarmos que o daifuku é mesmo… uma mama de mulher… pois… isso assim…

Experimentai que pelo menos o sabor é bom, a consistência muito perto do que se espera e o resto se estivéreis sintonizados no Império dos Sentidos (não é o restaurante, é mesmo o filme!), talvez conseguíeis atingir a tal experiência sensual extrema. Convém poderem depois discretamente retirar-se para um local mais recatado para prosseguirem com as hostilidades que tarem ali a masturbar-se à frente do tapete giratório é duma sem vergonhice sem nome e depois se calhar a gerência nunca mais vos deixará botar o olho, quanto mais o dedo ou a língua, nos belos dos daifukus, que devem comer-se aos pares pois, assim como as mamas das mulheres…

Olha aqui tá uma bela sugestão para o nosso almoço!
Que te parece ó Cilinha? Alinhas num japonês? Podes levar guarda-costas (olha o Leão por exemplo), se calhar é melhor… que eu depois posso não responder por mim. :P

Etiquetas: ,

13.3.07

serviço nacional de saúde



e para o três em um, ficam esta coisa linda e esta outra ainda mais.

fónix!

Isto aqui anda animado. Tão prolixas que elas eram...

12.3.07

A distância protege-nos do distanciamento

Quando estamos, fisicamente, longe daqueles que amamos, fazemos o esforço conjunto de nos mantermos perto.
Quando dois amigos estão longe escrevem-se, telefonam-se, enviam fotografias dos locais bonitos que visitam, das pessoas que os rodeiam, de si mesmos. Sentem a necessidade de não deixar passar muito tempo sem qualquer contacto e de não deixar existir o distanciamento.
A distância protege-nos, acolhe-nos e afaga-nos o espírito e o ego. Estar longe significa ser especial. Estar longe significa provocar e sentir saudades. E a saudade, quando pode ser morta, é um sentimento muito gratificante.
Estar longe também nos protege de muitas verdades que tentamos esconder. Protege-nos de nos apercebermos do distanciamento de quem gostamos mas que, afinal, se calhar, nem gosta assim tanto de nós. Permite-nos desculpas, desculparmos os outros, aqueles que queremos acreditar que só não comunicam porque estão longe, e a nós próprios com a “desculpa” do “estamos longe”. “Estamos muito longe” serve para tudo. Para o bem, para o mal, para a verdade e para a mentira. E, mais do que isso, se continuarmos sempre longe, nunca ninguém vai saber se é “desculpa” ou verdade.
Gosto de estar longe. Gosto muito de estar longe. Longe, só com o meu núcleo familiar juntinho a mim porque esses são sempre indispensáveis. Não preciso de mais ninguém fisicamente perto, mas preciso de tanta, tanta gente junto a mim. Preciso de todos os que amo e todos por quem tenho carinho junto a mim. Estar perto significa perceber distâncias, distanciamentos, afastamentos, desinteresses. Estar perto provoca angústia, faz-nos sentir “desamados”. Traz-nos dúvidas e certezas que não queremos ver.

11.3.07

hoje acordei assim

A monotonia do som meio oriental dos amoladores sempre me encantou. Melopeia que se desprende do ar em dias de sol e desperta em mim vontade de ter à mão um lote de facas e tesouras de gume rombo. Depois de afiadas, enquanto o amolador se afastasse, poderia escutar a melancolia em decrescendo.

desinfecção

O ciúme era tão idiota. A insistência das comparações era absurda. Perguntava a si mesma se ela seria mais bonita, mais inteligente, mais sexy. Ou se o faria sentir-se mais seguro de si... O broche dela seria irresistível? E os beijos, mais pirotécnicos? Quando fodiam sentiria ele que um mundo acabava e começava outro?
A curiosidade matou o gato; a ela, nada lhe disse.
Ficou, naquele dia, a olhar para todas as mulheres que entravam, pudessem elas ter a sua idade. Seria esta? E se fosse aquela? (coitado...) Podia ser qualquer uma. Ou todas as mulheres, por extensão. Sentia os pelos do braço da que estava ao seu lado sobre a pele e teve um sobressalto. E se fosse ela? Era esperta. Já tinha tido uma intervenção, e ela tinha gostado de a ouvir. Teve um gesto de cumplicidade com ela e viu-se, absurdamente, promíscua por estar a imiscuir-se na vida dele sem o seu conhecimento.
Pensou é doentio; e sacudiu o ciúme de cima como um cão sacode a água do pêlo.

mas não vou engraxar os sapatos de ninguém



e ainda este, para quem gosta de assobiar...

sendo assim

...vou-vos dando música.

9.3.07

és a única culpada das tuas desgraças

Ai meu deus, anda, filho, é tarde, já estamos um bocadinho atrasados... é, não sei como, mas agora já só temos meia hora. Vá abre os olhinhos, estás a acertar com o chichi de fora... Sei que é a pilinha que está grande, mas... Pois, querido, estás cheio de sono, logo tens mesmo que te deitar um bocadinho mais cedo, pelos vistos nove horas não te chegam... anda filhote, depressa, vem tomar o pequenos almoço... Oooh, meu amor, eu sei que custa levantarmo-nos com sono, se sei...!
Aai...!! Filho, o que é que estás aqui a fazer?! À hora de acordar do mano?? Estás a faltar ao primeiro tempo!
Hahahahaha! Mãe, são 7.30!
Bolas.

alavanca

o amor é elevação.
(é verdade que sempre pendi mais para a física do que para a química.)

8.3.07

redenção

Junta-se um gigante que encontrou o melhor egoísmo, aquele que descobre ser a divisão uma multiplicação, vinte e cinco crianças presas da nossa voz, haver quem queira desenhar o céu, as árvores ou a Primavera ao invés das personagens principais, um granizo vestido de herói de verdade, que dispara cubos de gelo perfeitos por um braço enquanto sorri maquiavélico, exibindo dentes ponteagudos, um menino que como o nosso, em frente, era amor, e obtém-se uma mãe sorridente.

Momento “dia da mulher” do dia

Chego eu esbaforida do almoço e vejo uma bela merda flor plantada em cima do teclado do meu portátel (e eu mais preocupada com o bicho que tem andado a fazer uns ruídos estranhos) e vai daí barafusto: "mas quem foi o estúpido que me deixou aqui esta merda flor? Se me estragou o pc vai levar com isto no trombil!"

Ao que se seguiu um silêncio sepulcral e depois de uns longos minutos os elementos masculinos da equipa lá se levantaram todos em conjunto e com um ar muito compungido vieram recolher a dita merda flor. Ao que eu fiquei um bocado encavacada porque a bem dizer eles até foram inesperadamente cavalheiros e eu fui um bocado cabra. Mas prontos!…

Mas da próxima vez não quero cá flores ouvisteis? Que as flores a mim causam-me urticária!

Etiquetas:

7.3.07


conserto para piano

Às vezes calha-nos estarmos mesmo acordados. Sabermos que o sol e a chuva andam juntos e que combinam bem. Saltarmos alegres na beira do passeio a ver os pés no chão, a cabeça a voar e os braços que dançam, num equilíbrio. E então cai-nos um piano de cauda em cima. Mas o certo é que estamos vivos.

6.3.07

Nível de ruído ensurdecedor

Entretanto lembrei-me que apesar da linda Cilinha se ter recusado a ir à Lesboa comigo (mas foste ao circo comer pipocas moles!), eu fui! Mas digo-te que não sei se foi por pura velhice aliada ao cansaço de ter que carregar uma catrefada de ossos colina acima, a festa para mim não passou de puro ruído, sonoro e visual. Estava muita gente, muito mais do que eu pensava que estaria. As vistas estavam todas deturpadas devido à quantidade de gente mascarada, e tanto que em muitos casos nem dava para distinguirmos o género dos personagens que por ali se bamboleavam. (Será um homem? Será uma mulher? Detesto este tipo de indefinição! Cheguei a ouvir alguém comentar que as mulheres mais bonitas eram os travestis!)

It was a sort of freak show, sem desprimor para as pessoas que ali estavam porque a bem dizer eu não socializei com ninguém, limitei-me a ouvir e a ver. Acho que na verdade sou uma gaja mainstream, e quanto a isso não há nada a dizer nem a fazer. E por isso este género de eventos não me dizem nada, horrorizam-me mais do que me divertem. Pertenço a outra geração, uma geração tolerante mas não aberrante. (Espero que não pensem que sou arrogante…) Acho muito bem que se invista neste tipo de iniciativas até porque pelos vistos há muita procura e em todas as faixas etárias. Não são é para mim, claramente. Eu quando vou à procura de gente, e agora me lembro de uns quantos encontros de blogs a que fui, gosto de ver bem as pessoas, avaliá-las de cima abaixo. Gosto de lhes olhar nos olhos, gosto de lhes ver os sorrisos e avaliar a sua maneira de estar. Gosto de ouvir as suas vozes, especialmente quando falam de maneira inteligente e assertiva. Uma pessoa no seu todo, qualquer pessoa, pode ser motivo de curiosidade, descoberta e fascínio. É bom sentirmo-nos levar por alguém que nunca vimos. Faz-nos acreditar nos seres humanos, e na nossa capacidade de arriscar em momentos únicos que se podem ou não vir a repetir. É nessas alturas, em que somos cativados por (e já agora cativamos a atenção de) um desconhecido interessante que a aventura e o desafio se elevam ao seu expoente máximo. Jogamos tudo naqueles segundos, naqueles minutos em que sentimos que aquilo pode ser o começo de algo, ou não.

Mas enfim, nada disto aconteceu nessa bendita Lescoisa em que o barulho era de tal forma ensurdecedor que saí de lá com uma brutal dor de cabeça e com os nervos em franja. Se não fossem umas almas caridosas que se me juntaram para assistir ao horror show acho que nem tinha dado com o carro à saída (e não foi por causa da bebida, se bem que as meninas do bar seriam mesmo talvez as únicas beldades lá do sítio, infelizmente não jogavam na mesma equipa que nosotras, ou se jogavam estavam ali para trabalhar e não para se divertirem, o que é uma pena!)

Portanto Cilinha, ainda bem que não vieste que aquilo não era antro decente para ti minha linda. Nem para mim! Saí dali só a pensar em enroscar-me num sofá com uma mantinha e um cházinho a ler qualquer um desses clássicos que me fazem sempre sonhar… se é mal da idade, ou se é do meu conservadorismo inato, ou se é da falta que o amor me faz… não saberei. Mas sei que não gostei!

Etiquetas: ,

5.3.07

pipocas moles

Ontem fomos ao circo. Para minha surpresa, o circo mudou pouco desde a minha infância, apresentando um espectáculo obsoleto. Mas mudou alguma coisa. Os tigres apresentavam mais viço e menos ferocidade. Menos obediência, também. Não havia contorcionista, nem menina na corda bamba, nem sequer os meus queridos trapezistas. O numero de magia era fraco e batido, as pombas, supostamente amestradas, mágicas porque pombas e brancas, e porque voavam na noite. Só os palhaços ultrapassaram as minhas expectativas: diverti-me, e eu nunca gostei de palhaços. Foi um espectáculo comovente; punjente, mesmo, quando no fim os artistas agradeceram olhando tristemente o recinto quase vazio.
No fim, trouxe um pouco do circo comigo. Veio agarrado a uma sola e só demos por ele quando já estava também colado a umas calças, ao peito de dois pés que se esfregavam um no outro e a um edredão. Foi lindo.

3.3.07

sol com cara de lua

Dormes. Olho de perto e atenta toda a extensão do teu corpo nu. O teu corpo branco de leite. De noite é lua, estendida na cama, encolhida em crescente.
Não sabes que me levanto. Não sabes que fugi ao teu recuo de cada vez que me encaixava em ti. Nem que agora te observo com minúcia, sentindo o poder e a culpa de te espreitar cada parcela de pele exposta, de contar as pregas de carne macia. Meço as variações do teu perfume. Respirando em coro contigo inclino-me sobre a tua cabeça sem lhe tocar; sinto-te a respiração tépida. Continuo a inspirar as diferenças ao longo de todo o teu comprimento, numa deslocação muito lenta. Tenho-te agora tão físico, tão presente e agudo que me entras pelas narinas e olhos e ouvidos e – parva – levanto as mãos e quase toco o teu calor. Afloro-te com os lábios a testa, a cabeça, o ombro, a anca. Passo uma mão leve pelo teu braço. Dormes, tu.
Preenche-me a tristeza da tua distância. Pergunto-me se chegaremos um ao outro. Parto e perco-me. Rio-me contigo, que trago em mim, e choro, porque me perdi. Não te encontro no meu mapa para me afastar de ti. Nunca vou saber se me perdi só para continuar a andar às voltas, à tua volta, prolongando a ilusão de estar contigo.

1.3.07

Às vezes o passado volta para nos bater na cabeça

Hoje é um dia relevante para mim, é um aniversário muito especial devido a uma opção que tomei também ela muito especial que se provou carregada de consequências, as quais com algumas soube lidar, mas com outras não. Hoje é um dia em que o passado se torna importante para mim, porque me ajuda a tentar entender o porquê do meu presente, mesmo que o meu futuro continue uma gigantesca incógnita.

Os "se"s podem ser exercícios fúteis mas são necessários para balizarmos as causas e consequências das nossas opções. Se não projectássemos nada, nem aprendêssemos com os nossos erros, viveríamos apenas no presente e como todos aqui sabemos, ninguém se limita a viver assim, ou pelo menos não quem quer ter uma voz activa e participativa ao leme do barco que consiste a sua vida.

Eu acredito que na vida tem que haver um fio condutor. Tem que haver um ponto de partida e um caminho traçado. Tem que haver objectivos e metas a alcançar. Temos que acreditar que estamos a lutar para chegar a algum lado, para alcançarmos algo que ainda nos falta, e não estou obviamente a falar em termos financeiros, embora esses sejam motivos válidos e suficientes para alguns (e viva o consumismo!) Faz parte do ser humano sentir uma certa insatisfação em relação aquilo que é. E ambicionar ser melhor do que é. Não para poder dizer que é melhor do que os outros, mas para sentir que é melhor do que já foi.

Gostava um dia de puder dizer que sou melhor pessoa do que já fui, mas não posso ajuizar sobre aquilo que sou. São os outros que me julgarão pelos meus actos e pelas minhas opções. Sujeito-me ao seu julgamento, assim como me sujeito à sua aprovação e por vezes até à sua rejeição porque nem sempre conseguimos agradar a todos. Os outros são as margens deste mar tempestuoso no qual navego tentando não naufragar. E quando se apaga um farol convém podermos orientar-nos por outros…

Lições da vida.

Aos vinte, aprendi que não sabia o que queria.
Aos trinta, percebi que não aprendi a lição dos vinte.
Agora acho que tenho até aos quarenta para perceber porquê...

referer referrer referers referrers http_referer Weblog Commenting and Trackback by HaloScan.com