Toma lá abóboras!
Eu cá já vesti as minhas vestes negras, pintei a cara de laranja e pus um chapéu bicudo! E mesmo que não seja nada assim, e que esta tradição não seja nossa, eu hoje tento essa irmandade remota com as bruxas invocadoras dos mais poderosos espíritos. Dizem que esta noite é a mais propícia ao contacto dos seres do além com os seres do aquém. E eu aqui me sento, à espera que eles venham, que me dêem um sinal da sua inequívoca presença!
Olha já vejo ali uma pintinha a piscar! Será um espírito que me veio visitar? Hummm… não, é mesmo só sujidade! Apesar das velas e das vestes, não me sinto nada iluminada hoje! Ó espírito céptico este meu, não me sinto indutora de conversas paranormais! Tenho uma curiosidade enorme em relação ao oculto, aos poderes que invocam quem serve o lado mais negro da espiritualidade. A escuridão aterroriza-me e fascina-me em partes iguais mas em momentos felizmente desencontrados (senão dava em maluquinha!)
Quando penso em festas pagãs dá-me sempre para descambar nos bacanais, nos fogos de Beltane, nas festas de celebração da deusa, ela sim omnipotente e omnipresente na forma da terra mãe. As mulheres que se entregavam aos prazeres da carne, que se davam a desconhecidos possuídos que as perseguiam nessas noites de carnalidade e sensualidade extremas… mas acho que isso não tem nada a ver com esta noite de hoje!
Eu bruxas não conheço nenhuma. Pessoas que dizem que falam com espíritos conheço algumas… e mulheres que se entregam aos prazeres da carne nos braços de estranhos… ai pois! Isto hoje não passa muito para além disto… ó noite, ó luar, ó cacimba, ó que me caia já aqui uma abóbora em cima para ver se desperto deste modo indecente de estar e de viver!
(E não é de cócoras que nos encontramos não ó sr. zé, que nós aqui fazemos as pegas todas de caras!)